Autoestima pra mim é uma parada muito nova. Tenho refletido muito sobre isso ultimamente. Brincando com minhas amigas, eu disse que pedi ao Papai Noel de presente de Natal uma autoestima delirante. De-li-ran-te, sim! Dessas coisas que estão entre o real e o sonho amalucado de super-herói. Tipo, se sentir tão bem ao existir quanto quem adesiva o para-brisas do carro popular “Sua inveja faz a minha fama”.
Como já disse, autoestima é coisa nova pra mim. Tô beirando os 40 anos, e foi bem depois dos 30 que ela deu mínimo sinal. Foi peleja, irmãos, pra fazer da ideia, ação. Terapia semanal, auto-conversas infinitas, milhões de vezes encarando o espelho pra ver o que saía dali. Dureza!
Quem sai de onde eu saí, quem vem de onde eu vim, não sabe muito do sentimento de valoração sobre o self. Sabe lá o que é o self. Fui aprender bem tarde o que era o eu, compartilhado em corpo-físico e corpo-alma. Só aprendi quando o segundo não deixava o primeiro descansar.
Da ponte pra lá, tudo é correria. É básico! O dia, a cesta, o tratamento, a superação. Tudo tá mais baseado na segunda que na sexta. E eu, desde pequena, fui chutando pra frente semana a semana. Fazia mês, fazia ano. Tudo era ganho. Sobrevivemos.
Sabe, pobre não conta com procedimentos pra se sentir bonito, conta com a sorte. E, sobretudo, com o riso. Conta com roda de amigo e de pagode, com geladeira cheia e boleto pago, com uma boa colheita de árvore frutífera da rua. Gente feliz é mais bonita, e vamos passando os dias tentando um novo sorriso.
Voltando, mais de 30 anos pra ver beleza em mim. É que não tinha tanta coisa bela pra apreciar no correr da paisagem que abeirava os meus anos. É que a gente não tinha tanto tempo para pensar nisso, tinha mais pra se lamentar. O lamento era coisa comum, parecia o arroz com feijão que hoje é moda, mas pra nós era regra.
Falando em beleza, lembro que as novelas na TV tinham um padrão. Tudo clarinho, tudo lisinho, tudo que não tinha nada a ver com a minha realidade. Quem cresceu ouvindo que o cabelo precisava “dar um jeito” pra ser bonito sabe do que eu tô falando. Nem vou entrar na questão do corpo, porque, sinceramente, se eu começar, não termino.
Pra mim, demorou pra sacar que a beleza podia ser plural, podia ser minha. Beleza foi algo que eu peguei emprestado das palavras, da força das histórias que lia ou escrevia. No espelho, só veio bem depois. Acho que porque nunca me ensinaram a olhar pra mim com carinho, sabe? A gente aprende a sobreviver, não a se admirar.
Mas, olha, vou contar uma coisa: quando comecei a gostar de mim, foi libertador. Porque ninguém mais precisava me dizer se eu era ou não era bonita. Não dependia mais. Comecei a me olhar e a ver além do que o reflexo mostrava. Meu sorriso tem história, meu cabelo tem resistência, meu corpo é sobrevivência.
Se eu sou bonita? Ah, eu sou. Porque eu rio alto, invento moda, abraço forte e vivi cada cicatriz que carrego com dignidade. E, se por acaso você também tá se perguntando se é bonito, deixa eu te dizer uma coisa: é, sim. Porque você tá aqui, porque você tenta, porque você não desiste. E isso é a coisa mais bonita que existe.