Sabe, não vejo hoje necessidade nenhuma em ser forte o tempo todo. Me perdoo pelas minhas fraquezas e me consolo pois entendo que a vida não é para amadores, e eu ainda estou me profissionalizando.
Dia desses foi difícil levantar da cama, o dia nebuloso e cinza transcendeu à meteorologia e veio habitar dentro de mim. Sei que, vez ou outra, dias assim são até saudáveis para que nos encontremos com nossa humanidade. O material humano do qual somos feitos pede multiplicidade de sentires.
Então, digo para mim: Coragem, deixa doer, enquanto a dor existir. Deixa seu corpo se prostrar quando a incerteza e o cansaço pedir inércia. Deixa gritar quando não couber mais no peito o desassossego. Deixa as lágrimas banharem seu rosto quando for preciso materializar o sofrer, não tenha medo. Eu não tenho medo da minha fragilidade mais, ela é o ápice da minha coragem.
E é preciso muita coragem para sentir, para permitir ser gente. Deixa, mas, não deixa muito não. O espírito pode se acostumar ao estado de baixa guarda, ele pode acabar indo tão profundo na dor que ficará muito difícil voltar à superfície.
É preciso ainda mais coragem para nos permitirmos sentir todas as nossas dores e enxergar que não é só disso que somos feitos. Fomos forjados em beleza de ser, criação natural do divino ou do universo. Acredite você em quê acreditar, somos, sim, criaturas nascidas de milagre e mistério. Como seres tão especiais merecemos a felicidade, mais isso custa. O preço é viver!
Viver têm essas nuances de nem tão ao céu e nem tão ao inferno. Somos terrenos, cá estamos. A caminhada é o nosso apogeu. Seguir é a nossa sina. Por vezes nossos passos se dão em estradas tortuosas, cheias de buracos, pedregulhos que nos machucam os pés e barreiras que parecem ser intransponíveis. N’outros momentos, a estrada é pacata, o sol brilha, tem brisa fresca e o horizonte parece promissor.
São tempos necessários, que se complementam, um nos faz reconhecer o outro. E, o mais importante: nenhum se estende à eternidade. Nada no mundo é perene. Nada!
Para dias de fardo pesado, onde nem o sol aquece meu coração, carrego na minha bagagem de vida um mantra, fragmento do livro Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa. É assim: “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”
Quando necessito, repito um mantra mentalmente, com a mais fervorosa fé que herdei de minha mãe. É ele: fé no mundo, fé nas pessoas, fé em mim. Ele acalma o palpitar do peito, traz resiliência, mas seu resultado não chega em brevidade.
O processo de dar conta de seguir se dá na praticidade, na rotina, no hábito. O velho e funcional processo de levantar e andar: acolho minhas lamúrias, levanto da cama, faço um alongamento, tomo um banho quente e demorado crendo que a água pode levar muito mais que sujeira. E, enquanto vejo minhas frustrações indo ralo abaixo, vou racionalizando que são apenas dias ruins e não sintetizam a vida inteira. Sigo de novo e sempre.