Eu sempre quis escrever sobre essa coisa de amar, mas como diria Sérgio Vaz, amar é para profissionais e eu sou amadora na vida, quiçá no amor. Levo rasteira dessa figura/ coisa / sei lá o quê todo dia. Queria, como mulher de palavras que sou, descrevê-lo.
Sei lá o que é amor, mas capaz de ser uma coisa fácil de saber, acho. Deve ser quando ele limpa o fogão sabendo que irei protelar até quando der e, quando o fizer, farei muito na meia boca. Ou deve ser então, talvez, eu recolher o resto da barba dele que fica na pia no pós-feito tendo um nojo sem fim dos pelos alheios.
Se não, pode até ser o nosso eterno fingir amar o vinho muito m* em promoção no mercado, pois carregamos juntos a plena consciência do apertado orçamento do mês.
Quem sabe, talvez seja até um cuidado estranho que se tem ao contemplar a beleza do outro ao acordar com uma cara das mais estranhas, muito da amarrotada, tanto da amarrada e num sem fim de me deixa em paz.
Outrora penso que o amor tem a ver com a vez que eu me debilitei e ele cuidou da casa, da criança, do cachorro e de mim.
N’outra vez, amar era entender umas manias estranhas dele e ter certeza que, no convívio, as minhas são um tanto piores.
Eu realmente não sei bem sobre o amor-conceito, sei mais mesmo é sobre o amor-vivência: aonde a gente se beira no metro e coisinha da cozinha, eu cozinho, as louças são tuas. Ou tu cozinhas, a louça eu já lavei.
Ainda nas vivências, imagino que o amor está tão pertinho assim das nossas pernas cruzadas nas noites frias ou quentes ou entre elas. Posso até dizer que dias desses senti o amor passar desajeitado entre meus joelhos e os teus, acordei até. O amor pelo jeito é coisa brusca, sem jeito.
E, eu, menina ainda para ter ciência plena dessa beleza complexa que é o amor. Sei não desse amor bonito, imaginativo e coisa tal que dizem, sei mesmo é do amor que vai longe a pé, chega até o mercado e traz rúcula e limão. É que a gente não vive é sem salada!