Existe uma particularidade muito gratificante que se apresenta a cada domingo para aqueles que moram no centro da cidade: o silêncio. Depois de uma semana turbulenta, ocupada por sons de buzina e um fluxo intenso de pessoas e suas vivências, a calmaria chega como se brindasse a existência de um respiro necessário, mas que mingua na medida em que o mundo avança. Esse retomar de fôlego programado foi sempre bem-vindo por aqui — pelo menos até o último final de semana, quando uma carreata tomou conta das ruas.
Abri a janela para ver o que estava incomodando. Era uma fila de carros infinita que se encobria com o balançar das bandeiras coloridas de números estampados. A uma semana das eleições municipais, as ruas viraram uma pista de dança de uma festa que pouca gente estava interessada em participar. Ao assistir de camarote o desfile atípico, a questão mais óbvia (de resposta mais óbvia ainda) saracoteou pela mente: por que eu votaria em um candidato que, mesmo antes de eleito, já perturba o meu escasso sossego?
Nem sei qual candidato era. Provavelmente tenha sido mais de um. O tópico avassalador, contudo, é esse questionar-se: será que, depois de tantos anos de progresso (digital, principalmente), uma carreata com buzinaço em pleno dia de descanso ainda é uma ideia aceitável para eleger alguém que você só vai assistir em cima de um carro balançando uma bandeira? Quer dizer, essa alternativa é de fato efetiva? Quem definitivamente vai pesquisar vida e obra de um candidato que só apareceu por conta do seu estardalhaço?
Nesse divulga-ou-atrapalha, ao menos para mim, o efeito é um só: assusta.
Assusta porque não convence. Porque incomoda. Porque é bizarra e fantasmagoricamente cafona, um retrocesso demodê que faz de tudo menos incentivar. É uma panfletagem ensurdecedora que atesta o absurdo: eu só vou te representar se te incomodar primeiro. E qualquer pessoa minimamente conhecedora de marketing sabe que irritar o possível cliente não é um movimento inteligente quando o intuito é conquistá-lo e vê-lo feliz.
O fechar das urnas anuncia que estes são tempos sombrios, apesar do sol que apareceu no último final de semana. Há muita gritaria, há muito alarde. Faltam as palavras, as movimentações efetivamente necessárias e o cumprimento do básico. Pudera: entre 342 opções, há que se destacar. Mas será mesmo que vence quem grita mais alto?