Enquanto o Sol vai se despedindo de Capricórnio, e eu encerro a quarta temporada da série The Crown, penso na relação de uma coisa com a outra. Identifico na série da Netflix sobre a monarquia britânica a essência de Capricórnio. E percebo o quanto precisamos ressignificar o que seja tradicional e conservador. Ao abordar dramaturgicamente os conflitos da família real britânica, entre limites impostos pela tradição e pelo papel político e questões pessoais e familiares, The Crown também fala sobre o nosso tempo. Não por nada, a série é um grande sucesso mundial na plataforma, enquanto Capricórnio é um dos signos mais tensionados.
No zodíaco, a polarização temática da série ressoa no eixo Câncer e Capricórnio, destacado no mapa astrológico do Reino Unido, que traz o Sol em Capricórnio, na parte mais funda do céu, oposto à Lua em Câncer, no topo do céu. Rigor, controle, reponsabilidade e vínculo com o passado fazem parte do senso de identidade dessa nação capricorniana. Sua atual e mais longeva monarca, Elizabeth II, aos 94 anos, é uma taurina com o signo ascendente em Capricórnio e o planeta regente, Saturno, no ponto mais elevado do mapa. Elizabeth encarna à perfeição o que se espera de uma governante saturnina: racional, absolutamente dedicada ao ofício e dura no cumprimento do dever.
Muitos episódios de The Crown giram em torno da frieza emocional da rainha, que pode chocar os mais sensíveis. Afinal, num reino capricorniano, mais vão se destacar a funcionalidade e as responsabilidades do que as humanas subjetividades. Mesmo a sensível Lua canceriana do país está num setor de poder e controle, em que a imagem pública pesa mais que o sentimento. Uma cena maravilhosa da série é exemplar: a princesa Diana (que era do signo de Câncer) abraça impulsivamente a rainha, que fica paralisada com tal intimidade da nora. Sem vilanizar Elizabeth pela dureza, a série revela o preço de assumir uma função pública e as consequentes renúncias individuais. Isto é Capricórnio em sua melhor expressão. E este não é um signo para fracos.
Cá em nosso país tropical, a comum e absurda mistura de interesses familiares e políticos nos faz até sonhar com uma Elizabeth no poder. Ironicamente, o bolo indigesto que nos é servido, feito de ingredientes sombrios e escusos, anda sendo vendido como “conservador”. Mas conserva mesmo o quê? Não os pressupostos da democracia, mas a gana egoísta dos poderosos de sempre. Constrói o quê? Nada. Então, como chamar de conservador o que vem para destruir? Cadê a razão, cadê a capricorniana habilidade de administrar? Precisamos ressignificar o que seja conservador nesse país sem memória.
Em nível mundial, o longo trânsito de Plutão por Capricórnio (desde 2008), potencializado em 2020 pela presença de Júpiter e Saturno no mesmo signo, vem mostrando a necessidade de ajustes nas estruturas mundanas, a fim de resgatar os aspectos humanos. Pois cristalizou-se no tempo um sistema devorador que já ameaça tudo, do planeta ao próprio homem. A pandemia já expôs os excessos do materialismo capricorniano e evidenciou o equilibrador aspecto canceriano, ao focar na intimidade das casas e no cuidado. Como Plutão segue em Capricórnio até 2024, há muito o que ajustar. Fiel a sua natureza, o Reino Unido preferiu isolar-se e romper com a comunidade europeia. O tempo dirá se foi a melhor saída. Já o Brasil vai aprendendo com a dura realidade que a política deve estar sempre separada de crenças e de populistas apelos emocionais.