A partir deste sábado, e até o dia 21 de fevereiro, Mercúrio, o mensageiro celeste, estará em mais um dos seus trimestrais ciclos de retrogradação. Desta vez, ele transita em Aquário, signo das comunicações de massa e da tecnologia, sugerindo atenção dobrada em nossa relação com o mundo virtual. Podem aumentar os problemas em torno de computadores e dados, redes sociais e postagens. No cotidiano, seria prudente pensar bastante nas consequências de partilhar conteúdos sem veracidade confirmada. Por sinal, a própria passagem por Aquário do disciplinador Saturno já indica que chegou a hora de definir limites na terra sem lei que se tornou a internet. Chega de impunidade: mentiras e delírios nas redes estão causando mortes!
A cada dia confirmamos a declaração do pensador italiano Umberto Eco de que as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis. Opiniões de teor escabroso, antes comumente emitidas somente em restritos círculos – como nas mesas de bares citadas por Eco –, ganham nas redes a mesma relevância do pensamento de estudiosos dedicados e comprometidos com o rigor da ciência. O resultado é a absurda equiparação entre a voz preconceituosa e violenta de um ignorante qualquer e as ideias desenvolvidas numa vida de pesquisa por um cientista. E nós, receptores das mensagens bombardeadas indistintamente, ficamos sem critérios para separar o ouro do cascalho.
Ah, a liberdade de opinar! Isso é democrático. Viva as redes sociais por isso. Mas cadê o filtro do discernimento? Cadê a ética e o compromisso com a verdade? O que fazer quando um suposto “direito à opinião” atinge a condição de capital de persuasão política em sinistros gabinetes de ódio? E quando os mais altos postos dos governos criam seus próprios canais de propagação de bizarras ideias capazes de mudar a realidade ao apresentarem “verdades” oportunistas? É triste reconhecer que as mesmas redes de informação que trouxeram acessibilidade e proporcionaram uma conexão inédita na humanidade também causem tantos danos. A culpa, claro, não é das redes, mas do seu mau uso. Por isso, urge um foco cuidadoso e continuado sobre esse tema. Urge legislação.
Até sair de Aquário, em 2023, Saturno pode proporcionar importantes ajustes acerca do impacto da comunicação digital e da lida com nossos dados. Como regular a propriedade de dados nas mãos de corporações como Google e Facebook? Para o historiador Yuval Harari, essa talvez seja a questão política mais importante de nossa era. Casos recentes sobre a venda de dados para fins políticos resultaram em escândalos globais. Harari imagina a gravidade
futura da não regulação dos dados coletivos: “Quando políticos forem capazes de manipular nossas emoções, provocando, segundo sua vontade, ansiedade, ódio, alegria e tédio, a política se tornará um mero circo emocional”. Sei não, Harari, mas esse horror já é presente...
Para além de problemas corriqueiros com computadores, conexões e telefones, o atual movimento retrógrado de Mercúrio em Aquário pode ser ótimo para uma avaliação de nossa vida digital. Até que ponto as ferramentas que ampliam nossa comunicação ditam a nossa rotina e mudam nossos hábitos? Quais os ganhos e quais as perdas em nossa relação com o virtual? E como resgatar o lugar do silêncio e da reflexão num mundo em que o excesso de informação vira ruído e desinformação? Em tempos de tenebrosas transações de milícias digitais, convém saber como somos enredados nas tramas das redes do mar de dados.