No mundo do futebol, não se fala de outra coisa. A Superliga, anunciada com 12 dos gigantes da Europa, causou um grande alvoroço e muitos questionamentos, não apenas por parte dos clubes menores e da imprensa, mas até mesmo por pessoas ligadas aos mais poderosos times do mundo, como ex-jogadores e técnicos.
Torcedores do Liverpool protestaram antes da partida contra o Leeds, nesta segunda-feira (19). Até o treinador dos Reds, Jurgen Klopp, deixou clara sua posição contrária, referindo-se ao fato de gostar de ver hoje quarto colocado no Inglês, com chances de disputar a Liga dos Campeões.
— Gosto do aspecto competitivo do futebol. Gosto que o West Ham possa jogar a Liga dos Campeões. Não quero porque nós (Liverpool) queremos estar lá, mas gosto de saber que eles têm chance — disse Klopp.
O objetivo dos organizadores é simples. Reunir os seis maiores da Inglaterra (Liverpool, Manchester United, Arsenal, Chelsea, Manchester City e Tottenham) três da Liga espanhola (Real Madrid, Barcelona e Atlético de Madrid) e três da Serie A italiana (Juventus, Inter de Milão e Milan), puxar mais alguns "convidados" e formar uma liga própria, com mais dinheiro, visibilidade, grandes clássicos e sem riscos de rebaixamento ou de ter receitas flutuantes dependentes do desempenho de ano a ano. A Uefa não gostou. A Fifa mostrou-se contrária e muitas equipes tradicionais, como Bayern, Borussia Dortmund, PSG e Ajax posicionaram-se de forma negativa.
— As crianças crescem sonhando em ganhar a Copa do Mundo e a Champions League, não uma Superliga. O prazer dos grandes jogos é que eles acontecem apenas uma ou duas vezes por ano, não todas as semanas — disse o alemão Mezut Özil, campeão mundial pela Alemanha e hoje no futebol turco.
Não chega a ser uma novidade, mas o futebol tem perdido muito da sua origem justamente por conta das cifras milionárias. Afinal, a grande graça de uma Liga dos Campeões não é o trabalho árduo que precisa ocorrer até se chegar nela? Um bom campeonato nacional em um ano significa uma vaga. E a garantia de maiores recursos. Sempre foi assim. Com direito a surpresas, como, por exemplo, o Leicester campeão inglês, ou um time de menor expressão abocanhando um terceiro ou quarto lugar e deixando os poderosos para trás. É assim na Europa e por aqui.
O assunto ainda vai gerar muita discussão e até acredito em algumas reviravoltas. Nesta segunda-feira, a Uefa anunciou uma nova Liga dos Campeões, com mais jogos, para a próxima temporada. É uma tentativa de recuperar terreno. Por outro lado, os donos da Superliga parecem irredutíveis.
O que essa competição pode gerar? Além dos lucros ainda maiores para os gigantes, penalizações da Uefa e uma lacuna cada vez mais gigante entre os que têm dinheiro e aqueles que lutam para sobreviver. Nada muito diferente do que acontece no Brasil.
A diferença de verbas de TV e recursos para um meia dúzia de equipes faz com que a elitização do futebol torne-se cada vez mais frequente. É cada dia mais difícil um clube de pequeno ou médio porte se manter na elite ou brigando por ali. Enquanto a preocupação ficar apenas nas cifras milionárias e no quanto os gigantes podem abocanhar ainda mais receitas, os pequenos vão diminuindo, diminuindo, diminuindo.... até desaparecer.