Um abismo separa ficção e realidade. Um colossal abismo. Imenso. Imensurável.
Pelo menos deveria ser assim.
Escritores inventam realidades. Podem até se inspirar na vida real, tecendo suas tramas, enredando nelas seus personagens. Ainda assim, uma realidade ficcional.
A Literatura está encharcada de estórias em primeira pessoa. De um tempo pra cá o termo da moda pra esse tipo de narrativa é autoficção. Noutros tempos era egotrip. Noutras eras — mesmo à luz da inspiração a partir do real — era só ficção, seja em prosa ou verso.
Noutra ponta, uma das tarefas do Jornalismo, por sua vez, é extrair da vida real personagens com feitos extraordinários.
Por exemplo, meu colega Pedro Zanrosso escreveu uma reportagem sobre um empresário caxiense que criou um clone virtual e abastece a inteligência artificial com a própria personalidade, memórias e comportamentos. Futurista, né? Mas real.
A invenção nesse tempo de fronteiras borradas, de cataclismas globais, de guerras que matam centenas num piscar de olhos, anda perdendo de goleada pra dura realidade. É impossível inventar tamanho horror. Todo horror inventado é fichinha diante da realidade.
Apesar dessa bagunça, há um abismo entre a ficção e a realidade. Contudo, quando escritores narram com requintes de crueldade um assassinato ou quando descrevem uma cena de sexo em um romance de ficção, são acusados de chocar a sociedade.
O abismo é abissal, colossal, imenso, imensurável. Mas ainda há quem peça o banimento de livros de ficção das estantes. Escritores têm sido vigiados e punidos por inventar realidades.
Procura no Google, o escritor Ricardo Lísias já foi acusado de ser falsificador e teve de depor na Polícia Federal. Lísias inventa realidades e paga o pato por isso. Surreal, né?
Um abismo separa ficção e realidade. Um colossal abismo. Imenso. Imensurável.
Pelo menos deveria ser assim.
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Recado aos caríssimos leitores e leitoras: no domingo, dia 29/09, eu vou lançar um novo livro. Se chama Quinta-feira Crônica pelo óbvio motivo de ser o dia em publico crônicas no Pioneiro e em GZH. A sessão de autógrafos está marcada para se iniciar às 18h, na Praça Dante. Pinta lá e aproveita pra curtir o show do Vitor Ramil.