E se pudéssemos reescrever o nosso santo horóscopo de cada dia?
Leia comigo o que diz a previsão astral do signo de Libra para hoje: “Sempre haverá pontas soltas, o importante é que, ao descobri-las, você se muna de boa vontade para as amarrar e solucionar os problemas que se apresentarem. O ideal e o real andam bastante distantes entre si. É assim”.
Pois é, reli duas, três vezes, e ainda tô perdido, nadando em aquário de tubarões, tentando entender que raios significa “o ideal e o real andam bastante distantes”. E quando é que andaram juntos? Sansão e Dalila, Orfeu e Eurídice, o Sol e a Lua, sempre fadados a “viver” separados eternidade adentro. “É assim”, vaticina a previsão libriana.
Insatisfeito (e cabeça dura) lembrei-me que meu ascendente é Virgem. Vai que, visto pela ótica de outro signo a perspectiva seja, talvez menos colérica. Diz assim: “Ainda que esteja todo mundo contra você, mesmo assim insista em manter o rumo pretendido, porque os resultados serão favoráveis a você, e as pessoas contrariadas terão de se redimir, ou fazer cara de panorama. É assim”.
Já que Libra, meu signo solar, fala em “pontas soltas” e que “o ideal e o real” andam em trilhas distantes, retive o que sacia minha alma (virginiana): “insista em manter o rumo pretendido, porque os resultados serão favoráveis a você”, pelo menos é a previsão do meu ascendente, signo que despontava a Leste no instante do meu nascimento.
Eu poderia ter fechado a fatura em Virgem. Mas, não, resolvi arriscar (o dobro ou nada). Revendo as anotações do mapa astral que o astrólogo Nivaldo Pereira dissecou diante do meu olhar incrédulo (isso foi há cinco anos), recordei-me que na hora do meu nascimento a Lua estava na casa de Sagitário.
Vejamos o que nos diz a previsão à luz lunar, sob a unção otimista, característica dos sagitarianos, com um certo apreço por aventuras: “Quando as pessoas falharem e cometerem trapalhadas, procure ajuda-las a se recompor o mais rápido possível, agregando um tanto de bom humor à situação. Assim, com um ambiente mais leve, todo mundo se beneficia”.
Palavra-chave: leveza. Será que só posso lidar com as “trapalhadas” alheias? Eu não poderia lidar com a mesma leveza toda vez que o meu “eu libriano” metesse os pés pelas mãos? E vocês acham que essa mesma leveza poderia ser antídoto para lidar com as patacoadas do meu “outro eu”, o virginiano?
E se eu resolvesse agir como alguém que nasceu sob a égide de Aquário? O Nivaldo disse que não tenho nadinha de Aquário no meu mapa. Ou seja, não navego em mares revolucionários (apesar dele ter visto sinais de rebeldia no meu DNA cósmico). Enfim, pelo sim, pelo não (o dobro ou nada), a partir de hoje vou fazer uma espécie de leitura dadaísta do zodíaco, recortando e colando o que me serve de cada signo.
Essa seria a orientação zodíaco-dadaísta para o dia de hoje: “Forçar a barra é uma tentação, mas seria melhor você não cair nela. Siga em frente. As contrariedades hão de ser respeitadas como sinais do destino sem temer as adversidades. Faça o que seja possível. É por aí. Com um ambiente mais leve todo mundo se beneficia. É assim”.