Sobe, desce. O nível d’água na parede da casa? Não, o mercado de ações, vil, volátil e volúvel. Perde, ganha. A Seleção Canarinho empilha derrotas. Quem se importa. No extremo sul do Brasil as enchentes deságuam, com fúria. N’outra ponta, a secura é implacável. No centrão, goteja sempre um toma lá dá cá, dali e de lá. Dois pesos, a mesma fatura. Aperto de mãos: cessar fogo.
Não sabemos lidar com a tragédia humana.
Doentes, inválidos, coxos, mancos. Pálidos e dessacralizados, quase opacos, rejeitados pela incapacidade de nos percebermos humanos. E se fosse eu ali naquela sarjeta, sucumbindo à espera de um milagre? Ainda ocorrem milagres? “A oração de um justo é poderosa e eficaz”, ensina o apóstolo Tiago. Noutra ponta da mesa, o apóstolo Paulo retruca: “Não há um justo, nem um sequer”.
Não sabemos lidar com a tragédia humana.
Clic-cléc-bum. Antes de anunciar o assalto, o tiro rasgou o tórax, rachando uma das vértebras. A bala, alojada no coração, fez sangrar o último suspiro. Por pouco, o Clio cinza não atropela o pedestre, que transitava na faixa de segurança. O motorista sempre se defende dizendo que atravessou o semáforo no amarelo. Arde em vermelho rubro a humanidade. Mas há quem diga que estamos só na fase do alerta amarelo, por vezes laranja.
Não sabemos lidar com a tragédia humana.
“O Brasil gera cerca de 80 milhões de toneladas de resíduos por ano”. A estatística tem sido replicada, anualmente, pelo menos desde 2021 (está no google). Ou seja, produzimos mais lixo do que sonha vossa incapacidade de contabilizar dejetos. De costas para um contêiner, uma senhora lança uma lata vazia num terreno baldio. Talvez na esperança de que brotasse ali uma hortaliça metalizada, crocante, sabor alumínio. Ah, vá lá. Algum desvalido talvez se interesse e recolha o lixo. Talvez porque ele precise do lixo que é estorvo.
Não sabemos lidar com a tragédia humana.
Enquanto engenheiros projetam os maiores edifícios do mundo, os mais velozes carros de corrida, as máquinas mais eficazes, enquanto programadores redesenham o futuro diante de uma tela de computador e robôs flertam com a humanidade, seres humanos desviam de bombas, granadas e estilhaços da mais pesada artilharia que se possa lançar uns contra os outros. Neste momento, há pelo menos 10 guerras sangrentas por aí. Dessas que reverberam internacionalmente. Entre a cruz e a espada, contudo, vertem conflitos aqui e ali, de balas na cara a zonas conflagradas. Tem saída?
Não sabemos lidar com a tragédia humana.
Talvez porque o ser humano, de fato, seja carta fora do baralho, está fora das estatísticas. Só produz lixo, zombaria, gritaria e artilharia pesada. É preciso proteger as fronteiras. E cuidar do fluxo cambial, alimentando o mercado com remédios que não aliviam a tensão. Navegar é preciso. O último a sair que apague a luz.