Pois é. Na semana passada, depois de publicada a crônica Vida de professor recebi diversos e-mails e mensagens pelas redes sociais com um arsenal ainda mais pungente do que relatei a partir do que escutei aqui e ali. Por isso, a seguir, transcrevo a visão nua e crua de quem abraça diariamente a missão de ensinar e, mesmo amando a profissão, diz que está cansado de nadar, remando em águas turvas, tendo de lidar com mil burocracias enquanto toma fôlego pra ministrar aulas geniais, esforçando-se ao máximo pra cativar alunos, em grande parte, desinteressados. Com vocês, “a vida como ela é” (em sala de aula), como diria Nelson Rodrigues:
“Hoje, os professores precisam lidar com crianças que têm problemas de limites, problemas familiares e bullying. Mais do que nunca, o profe hoje está sendo psicólogo, pai, mãe e terapeuta. Faz tempo que os profes vêm acumulando funções”.
“Nunca o país vai evoluir se os políticos não valorizarem o professor”.
“Para onde estamos indo? Tenho certeza de que um dia vai explodir. Posso resumir o meu sentimento em cansaço e desânimo”.
“Eu tenho dias muito bacanas em sala de aula. Mas o sistema acaba com a gente”.
“Os pais deveriam ser parceiros, mas insistem em desqualificar os educadores. Por quê?”.
“A sociedade como um todo deveria realmente valorizar o professor”.
“Agora tu podes fazer outra crônica, de todos os outros professores que vão pra escola cantando, que acham que a sala de aula é o melhor lugar pra viver, porque tem muita coisa boa no magistério”.
“Lógico que eu amo o que faço, mas tá osso, viu!”.
“Não é só de tragédias e desequilíbrios que se faz a vida de professor”.
“Essa pressão e ansiedade não é só do magistério, está no mundo hoje”.
“As pessoas não deveriam ficar reproduzindo falácias sem nunca passar um dia em sala de aula”.
“Como os professores, com mais de 20 turmas, poderiam viver com o mínimo de dignidade, mesmo imersos em diários, registros, planejamentos e planilhas?”.
“O ensino tem ficado em segundo plano, porque o importante é o professor provar tudo o que fez, preenchendo mil planilhas”.
“As crianças estão aprendendo cada vez menos e os profes estão cada vez mais cansados”.
“Eu amo dar aula, amo estar em sala de aula, amo ver a criança ler as primeiras sílabas. Mas eu passo mais tempo tentando dar conta de atender a todas as solicitações da coordenação, preenchendo planilhas, respondendo os pais que não fazem ideia de como é o filho em sala de aula, do que realmente preparando aulas”.
*****
O assunto não se encerra por aqui, as soluções não são mágicas, não se trata de ponto de vista. Aos gestores, uma lição de Rubem Alves: “ Os conhecimentos nos dão meios para viver. A sabedoria nos dá razões para viver”.