O Brasil não é pra amadores. Eu aposto contigo que antes de terminar de escrever essa crônica, mais um golpe terá sido aplicado no país. O Brasil, além de ser o país da piada pronta e da pátria de chuteiras, é a sede do maravilhoso mundo dos golpes. Tem de todo tipo, ao gosto do freguês, seja ele capitalista ou comunista, papo ou grená, do clero ou burguesia, morador de arranha-céu ou em situação de rua. Tem golpe dos nudes, do bilhete premiado, do filho que pede dinheiro emprestado, tem até advogado prometendo resgatar dinheiro da Era Collor, claro, mediante antecipação de 20% do valor.
O país que já revelou mais craques do que cientistas, atualmente assiste aos pernas-de-pau ganhando um troco por fora. É mais ou menos assim:
— Ó, magrão, pago 50 mil pra ti, quentinho, na tua conta, se tu ajudar teu time a perder.
— Bah, mas aí tu me f*.
— Magrão, é cinquentão na conta pra tu terminar a cozinha dos sonhos da tua patroa.
— Bah, véio, como é que tu sabe que tô devendo isso da cozinha pra ela?
— É só olhar pro carrão que tu comprou, eu e tu sabemos que tu não tem essa grana toda pra comprar uma máquina dessas na bucha.
Eu aposto contigo que, se não foi exatamente assim, tem sido mais ou menos assim. Pra alguns, o apelo ao coração é xeque-mate. Pra outros, bem mais simples, tanto faz se o golpe é gol contra. O que vale é o som do cifrão na conta. E todo final de semana, não apenas nos últimos anos, quando brotaram como chuchu na cerca os trocentos sites de apostas, sempre tem o craque do último minuto batendo no peito e beijando o escudo do time na camisa, em sinal de amor. Só se for pra inglês ver.
É triste, mas o país do golpe é uma piada. Porque o cara que hoje aplica golpe, vai certamente cair no golpe de um mané qualquer que apostou com o parça de boteco que o golpista é só lero-lero, e nem perceberia que sua tentativa de golpe é, na verdade, o contragolpe, como um cruzado de direita no queixo. Mais ou menos como a fatídica madrugada, no limiar de 31 de março e 1º de abril de 1964. Foi gol de quem? A favor ou contra quem? Porque, na torcida de uns foi golpe, na outra, diz a fatura que é contragolpe.
Repito, o Brasil não é pra amadores. Deu no jornal O Globo: “Empresas de apostas on-line, ‘bets’ movimentam R$ 150 bilhões por ano”. É quase um crime de ingenuidade supor que o brasileiro não perceberia que, nas subcamadas desse poderio econômico há rios de infinitas oportunidades pra faturar no curto e médio prazo. Mais ou menos como ocorre, diariamente, no mercado de ações. Às vezes, as coisas saem de controle, mas, na maioria delas, é travessia em mar de bonança. E, depois, tudo vira estatística.
Jogo do bicho é contravenção, jogos de azar são proibidos no Brasil, golpe é atitude de gente canalha. E nada disso importa. Segue o jogo, porque o juiz não viu. O Brasileirão não pode parar. Afinal de contas, é só mais um golpezinho na praça. E vamos faturar.