Recebi uma sugestão, por e-mail, de uma professora impactada com uma frase pinçada em uma das minhas recentes crônicas, Pavor de ir e vir. O texto discorre sobre o trânsito caótico de Caxias. Contudo, ela se identificou mais ainda com a seguinte frase: “Percebi que eram professoras, pois carregavam pilhas de pastas e livros e pareciam cansadas apesar de ser terça-feira”.
E lá pelo final da carta, depois de enumerar dezenas de itens que, segundo ela, “acabam com a vida de toda classe que ganha a vida em sala de aula”, praticamente implorou aos céus, dizendo: “Por favor, Marcelo, escreva sobre a saúde mental dos professores frente a tantas exigências, muitas delas, por conta da burocracia que teima vingar apesar de já convivermos com a inteligência artificial”.
Noite dessas, em um jantar entre amigos (curiosamente, todos eles namorados ou maridos de professoras), fiquei ali sentado num sofá da varanda no apartamento de um casal de profes. Ouvi, quieto, a um sem fim de desabafos sobre a vida de professor. Daí lembrei da pesquisa Saúde Mental dos Educadores 2022, realizada pela Nova Escola, em parceria com o Instituto Ame Sua Mente.
No foco da pesquisa, 5 mil profissionais, entre professores e gestores do Brasil todo. 66,6% deles, avaliam que sua saúde mental é regular, ruim ou péssima. Em relação ao ano passado, esse indicador aumentou 21,5%. Ou seja, mesmo com o fim da pandemia, o que exigiu dos profissionais da educação uma sobrecarga extra de trabalho, a saúde mental dos professores e gestores continua piorando. Entre as consequências, a pesquisa destaca os sentimentos intensos e frequentes de ansiedade (60,1%), seguidos por baixo rendimento e cansaço excessivo (48,1%) e problemas com sono (41,1%).
A região Sul é a campeã no quesito saúde mental ruim ou muito ruim, com 24,2%, acima da média nacional de 21,1%. Como uma forma de intervir nas escolas, promovendo a saúde mental dos professores, foi criado pela Universidade Federal de Santa Maria o projeto de extensão Trabalho e Saúde Mental dos Professores Durante e Após a Pandemia da Covid. Entre as constatações de Naiana Dapieve Patias, docente da UFSM, “nota-se baixa realização pessoal, autoavaliação negativa e um excesso de despersonalização, ou seja, tratar o outro de uma forma fria justamente como forma de se proteger”. Duro, né?
Mesmo antes de ler a pesquisa, suas constatações e observações, ouvi o resumo disso tudo no jantar entre amigos. Naiana complementa: “Muitos passaram por situações estressoras crônicas, não tiveram ferramentas pessoais e institucionais para superar isso e acabaram se afastando do trabalho”. Pois é, similar ao lamento dos professores na sessão terapia entre amigos.
— Tem dias que chego em casa e só quero chorar, mas aí eu lembro que tenho todas aquelas planilhas pra preencher... — desabafa uma delas.
Pelo jeito, além dessa crônica vou ter de escrever mais uma dezena sobre o mesmo assunto. Só fico pensando como vai ser o Dia do Professor. Um dia mágico e encantador. Dia em que todos os professores são celebrados e aplaudidos. Pena que dura um dia só.