A surpresa, o inesperado. No coração de quem trabalha com moda residem princípios como a originalidade, a mudança e o efêmero. Tudo, menos dormir no ponto e, em alguns casos, tornar-se invisível. Há muitas razões para evidenciar essa questão que não é comumente mencionada; a mais importante, com certeza, é a existência do que podemos chamar de "laboratório das novidades". O alfaiate Egon Ramisch confirma que a profissão que escolheu seguir é capaz de orientar comportamentos e está constantemente a serviço dos sonhos daqueles que a buscam. A elegância do sob medida feito por Egon Ramisch terá como sucessor um de seus filhos, Jeferson Ramisch.
— Não consigo imaginar como seria minha vida sem que a moda estivesse envolvida. Faço parte de uma seleção natural nas minúcias do trabalho. Estamos rodeados por essa atmosfera e poder transformar, a partir do vestir, o retrato de momentos marcantes na vida das pessoas, é uma honra — discorre Egon, 81 anos, o mais longevo de seu métier na cidade, atuando desde o início da década de 1970, ao mostrar sua proximidade com o conceito de elegância que, antes, nos primórdios do Século 19 era símbolo de status social e para poucos, e após um hiato de uma atividade quase em extinção devido a automatização da indústria, volta com glamour para vestir famílias em datas solenes. Em 2014, nosso entrevistado lamentava que ninguém mais queria seguir a profissão. Hoje, o padrão do vestir-se com sofisticação é alçado ao desejo de muitos.
Natural de Gramado, Egon é filho de Carlos e Ana Ramisch, descendentes de alemães e que desde muito cedo lhe ensinaram o valor do empreendedorismo e da recompensa pelo esforço. Para além de criar, organizar e construir um traje, ele observa, desde a infância, atentamente o que o cerca.
— Ainda menino, vasculhava a gaveta das gravatas do meu pai e escolhia as que mais combinavam com cada paletó no armário. Foi nesse momento que o sentimento pela moda começou a despertar — rememora o disciplinado pai de Ronald e Jeferson Ramisch e viúvo de Maria Teresa Indicatti Ramisch.
Quando chegou em Caxias do Sul, Egon deu início a sua trajetória profissional como costureiro e aprendeu a desenvolver ternos e costumes do croqui, o desenho, passando pela execução até a prova final. Em seu ateliê, fundado em 1994, nos domínios da Avenida Rio Branco, no Bairro São Pelegrino, ele mantém preservada e operante sua primeira máquina de costura, da marca Pfaff, e garante que deste ambiente saem peças capazes de emocionar gerações. Tanto é que, atualmente, dedica-se em transmitir esse legado de conhecimento e experiências para seu filho caçula, Jeferson, 48, que busca manter viva a tradição.
— Vivi na Itália durante quatro anos e foi lá que aprendi o valor que um negócio de família tem e a possibilidade de um convívio mais próximo com meu pai, principalmente após o falecimento da nossa mãe, em 2018 — conta Jeferson, marido de Paula Danielle Franchi Ramisch, com quem alinhava o dia a dia dessa nova rotina de aventuras pela alfaiataria.
Entre os tecidos e aviamentos necessários para a produção das roupas sob medida, Jeferson é um atento observador das habilidades do pai para entender todos os processos que envolvem a administração do ateliê. Para pai e filho, a moda desperta a mesma paixão e prova que é possível coexistirem ideias clássicas aliadas à modernidade necessária para manter a profissão viva.
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Um roteiro que sonham realizar: uma viagem ao Norte da Itália, passando por Milão (e toda sua moda nas ruas e vitrines) e as cidades que contemplam o Lago de Garda;
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Personalidades que Egon vestiu e veste:
- Adelino Colombo;
- José Angeli;
- Raul Anselmo Randon;
- Astor Schmitt;
- Daniel Randon;
- David Randon;
- Hugo Zattera;
- Jaime Andreazza.