Raros são os que têm pleno equilíbrio. As relações e rotinas de trabalho fazem com que as emoções se inclinem seriamente mais para um lado do que para outro. Podemos, por exemplo, tender a ser presunçosos ou inseguros demais, confiantes ou desconfiados, alegres ou sérios. A análise pessoal dos pensamentos pode nos pôr em contato com doses de equilíbrio que alimentam nosso ser interior que pende para um lado. Estudiosa sobre como promover uma mente saudável, Ariane de Freitas Severo, psicanalista e escritora, filha de Rivadavia Severo e Édila de Freitas Severo, interpreta o mundo de maneira singular e compartilha neste fim de semana o que pensa ser necessário para evoluirmos.
— A expressão "Freud explica" fundamenta uma verdade, ele escreveu a respeito de diversas áreas do conhecimento e com o seu método explicou como funciona a mente. Uma de suas teorias afirma que o inconsciente nada mais é do que o desconhecido pela consciência, mas que se revela por meio dos sonhos, dos lapsos, dos atos falhos, do sintoma, dos jogos de palavras. A vida primitiva, infantil que um dia foi reprimida; fantasias, traumas, desejos, estão lá, esperando o momento oportuno para se manifestar, sempre de forma distorcida — comenta Ariane, ao expor sobre um dos mais curiosos mistérios da mente, o inconsciente.
Nascida em Porto Alegre, nossa entrevistada é a mais velha entre quatro irmãos e, na adolescência, já demonstrava seu espírito de liberdade ao residir em Caçapava do Sul e em Caxias do Sul. Aqui, para completar os cursos de Direito e Psicologia, na UCS.
— Vivi em Caxias do Sul por treze anos, na casa dos meus tios e padrinhos José Antônio Martins e Hieldis Severo Martins e concluí duas faculdades. Depois fui para Porto Alegre onde me aprofundei na área clínica no Centro de Estudos Psicanalítico de Porto Alegre e no Contemporâneo, Instituto de Psicanálise e Transdisciplinaridade local em que leciono há mais de vinte em três cursos de especialização — conta Ariane que é casada com o também escritor, Alcy Cheuiche.
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Reflexões pessoais:
- Se estou preparando aula penso em como transmitir aquele conteúdo da melhor maneira;
- Se estou escrevendo, qual a melhor forma de contar a história?
- Se estou pensando na família, como aproveitar todos os momentos com meus pais e tios;
- E no dom do amor: dar o que não se tem, dar além do que podemos, sem esperar nada em troca.
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Além do papel de reequilibrar a personalidade, a psicanálise pode nos ajudar a ser mais morais, incentivando o nosso melhor lado por meio de mensagens e aspirações otimistas. Para o futuro, Ariane deseja seguir próxima às pessoas que ama e ensina, escrevendo sempre. Ela dirige uma oficina de Literatura e Psicanálise, e já foi a responsável pela organização do livro Tudo em Movimento, nas edições publicadas entre 2015, 2017, 2018 e 2019. Atualmente ministra uma Oficina de Literatura, Psicanálise e Cinema, no formato online.
Recentemente, a escritora apresentou, em sessão de autógrafos na Livraria Do Arco da Velha, a história do livro Freud de Viena a Paris, que se passa em uma viagem de trem, o Expresso do Oriente, entre a Áustria e a França. A saída de Viena e sua relação com o avanço do nazismo e a intolerância aos judeus.
— Iniciar o romance a partir desse momento histórico define a narrativa. Há dois motivos mais evidentes para esta escolha. Trata-se de um episódio pouco conhecido, implicando questões atuais como o aumento do autoritarismo, as imigrações, racismo, homofobia, intolerância às minorias. Encontrei um fato interessante, oportuno e pouco conhecido para discorrer, o que me permitira imaginar e isso me fascinou. É um romance histórico, com personagens reais. A forma de contar é que é romanceada, mas sem alterar os acontecimentos. E o leitor acompanha o personagem principal que vai se revelando a cada capítulo — completa a pensadora gaúcha que também é autora do livro de contos Capuccino (2016), e do romance Nina Desvendando Chernobyl, finalista do Prêmio Jabuti 2018.
— Freud foi um grande homem, adiante do seu tempo. Lia e falava em vários idiomas, possuía uma biblioteca com centenas de livros de todas as áreas do conhecimento, especialmente literatura. Tinha uma coleção de arte e antiguidades com mais de duas mil e quinhentas peças. Freud sempre foi um admirador da arte. Insistia em inúmeros momentos o fato de que muitas vezes os artistas antecipavam as verdades mais essenciais do psiquismo humano. Encontrou na obra de muitos escritores a imagem necessária para a explicação de suas teorias — finaliza Ariane, encantada em compartilhar com sua admiração pelo teórico austríaco.
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Referências de Ariane:
- Sigmund Freud que uma vez disse: Aonde quer que eu vá, eu descubro que um poeta esteve lá antes de mim.
- Donald Winnicott com a célebre frase: Há momentos que só a poesia permite o gesto humano.