Degustando o lado bom da vida!
Andrea Marcílio Trentin, filha de Valmir e Marli Trentin, é graduada em Arquitetura e Urbanismo, mas se reinventou e descobriu na Enologia seu lugar no mundo. Membro da Confraria do Champanhe da Serra Gaúcha, desde 2008, nossa entrevistada decidiu, em 2018, dar uma guinada em minha vida e se dedicar ao que sempre amou, o vinho! Formou-se Sommelier Internacional e hoje atua na coordenação técnica e comercial do projeto Manus Vinhas & Vinhos, dos irmãos Gustavo, Diego e Francisco Bertolini que tem como filosofia a elaboração de vinhos autênticos e expressivos a partir de uma visão humanística que valoriza o homem e sua relação simbiótica com a natureza.
Qual sua lembrança mais remota da infância e que sabor te remete a essa época? Os verões na casa dos meus avós Fiorindo e Maria Thereza Marcílio com meus primos, onde nos refrescávamos na vertente das plantações de agrião do meu avô.
Qual a passagem mais importante da tua biografia e que título teria se fosse publicada? Certamente o dia que passei no vestibular para Enologia, marco oficial da mudança de vida e profissão. Se fosse uma obra se chamaria: O lado bom da vida.
Conte-nos um pouco da sua história e como começou no ramo da enologia? Em 2015 com o encerramento das atividades da família, me vi em um momento de transição profissional no qual teria que fazer escolhas. Na ocasião conheci Emilio e Júlio César Kunz que me aproximaram ainda mais do mundo do vinho. Foi então que decidi arriscar e entrar de cabeça na enologia.
Qual sua bebida favorita? Amo todos os vinhos, cada uva com a sua personalidade. Mas dou particular destaque para as variedades Cabernet Franc e Sauvignon Blanc.
Quais as harmonizações entre vinhos e comidas sugere? Apesar de existirem diversos padrões de harmonização, acredito que essa questão é muito pessoal. Gosto muito da gastronomia japonesa acompanhada de um espumante Nature, mas sem dúvida as melhores harmonizações são aquelas nas quais estamos com pessoas que amamos.
Se tivesse vindo ao mundo com um manual de instruções, o que conteria nele? Respeito e consideração associados a bons vinhos mantém o perfeito funcionamento!
Um hábito que não abre mão? Contemplar o pôr do sol e agradecer.
Uma pessoa que admira e por quê? Regina Vanderlinde atual presidente da Organização Internacional do Vinho. Além de levar o nome do vinho brasileiro para o mundo, Regina é brasileira, mulher, profissional do setor da vitivinicultura, reconhecida internacionalmente por méritos oriundos de seu trabalho e competência profissional.
Qual a importância da produção vinícola da Serra gaúcha no mercado internacional? A Serra gaúcha é a maior e mais importante região produtora nacional. Teve um papel fundamental para a expansão do vinho. Aqui surgiram as primeiras cooperativas organizando o setor e realizando as primeiras exportações de grande porte. Atualmente representa 85% da produção do Brasil e contém cinco Indicações Geográficas, incluindo a Denominação de Origem do Vale dos Vinhedos.
Por que o vinho é considerado “um santo remédio”? Por ele poder ser elaborado de forma espontânea e natural, apenas com o que a natureza proporciona e ser rico em polifenóis que são extremamente benéficos para o ser humano. Ele é um excelente companheiro, traz aconchego, aproxima pessoas e tantas outras coisas boas. A frase de Lily Bollinger traduz muito o que sinto pelo vinho: “Bebo champanhe quando estou alegre e quando estou triste. Algumas vezes, bebo quando estou sozinha. Se estou acompanhada, considero-o obrigatório. Bebo uns golinhos quando estou com fome. Fora isso, não toco nele — a não ser, é claro, que esteja com sede.”
Qual foi o maior desafio encontrado até hoje? Conciliar os estudos da nova faculdade com o trabalho de arquitetura e ainda buscar experiências profissionais na enologia. Ingressar em uma nova área com um pouco mais de maturidade e lidando com as responsabilidades da vida adulta foi muito desafiador.
Quais são suas influências e inspirações? Certamente a garra do viticultor. Quando iniciei os estudos na enologia, pude conhecer de perto os desafios do setor para elaborar produtos de qualidade. O produtor enfrenta batalhas diárias inclusive contra a natureza. As vezes uma geada fora de época, um excesso de chuvas na hora errada pode colocar o trabalho de um ano inteiro em risco, por essas e muitas outras razões eles são sinônimo de superação e merecem meu total respeito e consideração.
Qual foi o momento que mais impulsionou a sua carreira? A oportunidade dada pelo enólogo Alejandro Cardozo para trabalhar na Empresa Brasileira de Vinificações, além de aprender muito, pude ter contato direto com todos processos de vinificações.
O que faz para se manter atualizada na sua profissão? Muitos cursos, adoro estudar. Além disso participo de feiras, palestras, congressos e eventos do setor.
Como vê o vinho nacional nos próximos anos? O Brasil vem evoluindo a cada safra. Novas regiões vitícolas vem surgindo, quem um dia imaginou que fossemos ter vinhos produzidos no Planalto Central? A qualidade do vinho nacional e a determinação dos produtores em querer sempre melhorar, faz do futuro do vinho no Brasil um caminho para o sucesso. A prova disso é que nossos espumantes já têm ganhado destaque internacional pela qualidade, sendo inclusive comparados aos da região de Champanhe, na França.
Como utiliza o tempo livre? Normalmente busco o contato com a natureza no interior da Serra gaúcha, estar com os amigos, um bom chimarrão, estudar, degustar novos vinhos, assistir a séries. Sempre que possível gosto de visitar diferentes produtores e regiões vitícolas.
Não vivo sem: vinho.
Gostaria de ter sabido antes... que a gente deve ouvir mais o coração e nossa intuição.
Quais os seus projetos para o futuro? Aprofundar cada vez mais meus conhecimentos na área da enologia, para poder contribuir para a história do vinho nacional.
Reflexão de cabeceira? Todo ser humano tem o direito irrevogável de evoluir ao máximo.
Quais lições tem aprendido com a crise gerada pela pandemia? Que às vezes a solidão pode ser importante para nos voltarmos para nosso ser. Que devemos amar ao máximo, nos doar ao máximo, pois a vida é um sopro. Que a sua dor não é maior, nem menos importante que a dor do outro.
O que vai fazer quando a pandemia acabar? Uma festa para reunir todas as pessoas de quem sinto muita saudade!