Para discorrer brevemente sobre o surgimento e a representação do camafeu, adorno que ganha merecida evidência não apenas nos trajes de releituras das candidatas ao título de soberanas da Festa da Uva, mas que há muito, elegantes personalidades femininas da Serra gaúcha elegeram como elemento de estilo na composição de looks, a coluna foi conversar com Vera Menegotto Vanin, uma apaixonada confessa pela peça símbolo de sofisticação que seguramente combina com o guarda-roupa dela e seu estilo de vida. Ela se vale do camafeu não apenas para realçar um modelo mas pelo valor artístico e histórico que ele representa.
A mais literal referência de Vera é de sua bisavó materna, Olívia Mendonça Vieira, de descendência espanhola, que sempre compunha as vestimentas para revelar sua distinção. O camafeu (do latim cammaeus) significa pedra esculpida e de alguma forma é elaborado a partir de uma técnica precisa de escultura pela necessidade da minúcia dedicada ao modo de tornar uma figura em alto ou baixo relevo, valorizando a existência de camadas sobrepostas de diferentes colorações e transformadas em broches, pingentes e brincos. Quando surgiu, na Alexandria por volta do ano 300 a.C., o camafeu era produzido a partir da ágata, do ônix e da sardônica e continha imagem de deuses, cenas mitológicas e, claro, o busto de figuras femininas.
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Vera conta que em suas viagens mundo a fora sempre foi uma curiosa sobre o tema e até hoje garimpa lugares de produção e museus que desvendam coleções de seus objetos de desejo e que fazem brilhar seus olhos em encantamento.
Entre algumas surpresas, conheceu o berço que pertenceu a Vittorio Emanuele, último Rei da Itália, uma peça clássica toda ornamentada de camafeus e que atualmente pode ser apreciada pelos visitantes do Palácio Real de Reggia di Caserta, em Nápoles.
A obra esculpida por diferentes tipos de conchas e corais revela uma criação curiosa que instiga muitos apaixonados por arte a engendrar no museu que exibe tamanha preciosidade artística. Até o século 19, as peças eram utilitários decorativos e os mestres gravadores produziam elmos, capacetes, punhos de espada e até peitorais de armaduras, além dos broches que denotavam altivez às mulheres que os ostentavam.
Até Napoleão Bonaparte, líder político francês, que viveu entre 1769 e 1821, outra figura histórica, chegou a fundar uma escola para ensinar a arte da produção de camafeus à jovens aprendizes.
Em um tour pela Grécia, Vera encontrou uma reprodução dos famosos ovos de joalheria, verdadeiras obras-primas criadas por Peter Carl Fabergé e seus assistentes, entre os anos de 1885 e 1917, e eram destinadas aos czares da Rússia, que por sua beleza ganharam todo o tipo de réplica. Mas este era particularmente lindo aos critérios dela, uma vez que a peça ganhava contornos de camafeus. Foi parar em um aparador de sua casa e incrementa outra de suas coleções.
Não há viagem em que ela percorra sem mapear um roteiro relacionado aos camafeus em museus que retratam peças icônicas, tal qual as que pertenceram a grandes nomes como a Rainha Vitória do Reino Unido (1819-1901), que tinha uma predileção pelas delicadas imagens e até ditou moda entre as mulheres que usavam os broches em blusas, vestidos ou aplicado em uma fita em volta do pescoço.
Outra aristocrata que possuía uma coleção imensurável de camafeus produzidos com o rigor da época foi Catarina II, a Grande, Imperatriz da Rússia entre os anos de 1762 e 1796. O acervo expressivo da peça que a soberana colecionava está preservado no Palácio de Catarina, localizado na cidade de Tsarskoye, na Rússia, em que Vera teve acesso em mais uma de suas incursões pelos paraísos das artes no Velho Mundo.
Outras duas relíquias que nossa entrevistada guarda com peculiar cuidado são os camafeus chineses esculpidos em baixo relevo sobre pedra jade, que ela transformou em colares. Um deles modelou em formatos torsades e cabochon. As peças da coleção de Vera Vanin garimpadas pelo mundo foram transformadas em acessórios graças ao talento do ourives caxiense Raymundo Pezzi que desenvolvia os modelos emoldurados bem ao gosto da colecionadora. Como integrante da Confraria das Artes da Serra Gaúcha, Vera tem cada vez mais voltado suas atenções à história e às impressionantes criações que transcendem o tempo.
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