Falar sobre Cristina Lisot é como desentrelaçar fios. Vai-se descobrindo uma bailarina determinada, uma artista têxtil em ascensão, uma figurinista com olhar refinado e uma bioquímica que atua no serviço municipal caxiense. Todas em uma, na razão da diversidade de possibilidades com as quais ela exerce sua criatividade.
Atualmente expondo na Fibra — 1ª Bienal de Arte Têxtil Contemporânea, em Porto Alegre, ela aproxima as tramas dos fios de movimento que vem construindo no decorrer de sua formação como bailarina com Margô Brusa, Cláudia Bergmann, Gislaine Sachet, integrando também a Cia Municipal de Dança.
Leia também
Conheça Nicole Heinen, jovem que revisita baú de memórias para criar como artista
Conheça Arthur De Antoni Perini, o jovem chef que comanda o Q Restaurante ao lado do pai, em Caxias
Em paralelo, virou Farmacêutica Bioquímica. E sem jamais esquecer as artes e a costura. Afinal, cresceu entre retalhos vendo o pai atuar como alfaiate e ter uma fábrica de jeans, e a mãe, Stela Alberti Lisot, formada em artes plásticas, que a deixava com a irmã Carolina com tarefas de pintar panos de prato. Tudo em fluxo criativo.
— Tive uma infância com muitas possibilidades de expressão. Fui intuindo que tecer vem do mesmo lugar do movimento, algo que mexe interna e externamente. A gente é um ponto zero, com todas as possibilidades de ser. A dança contemporânea me ajudou a encontrar e a questionar o meu movimento como ser humano — diz.
Assim, fazer seus tricôs e roupas que expõe em bazares e feiras alternativas em uma arara criada em parceria com a irmã, que é arquiteta, é também refletir sobre o seu entorno.
— As peças nascem como respostas a coisas que me mobilizam nas artes. Elas são suportes para leituras do mundo. Não têm um compromisso com tendência ou coleções pontuais. Têm mais a ver com a ideia de usar o que tenho à mão, de refazer, reutilizar fios e outros materiais — explica.
Tecer e dançar se entrelaçam também na função de figurinista. Aqui, não se trata de fazer roupa, mas de ideias.
— Figurinos estão no lugar do simbólico, pedem o exercício criativo do metafórico — afirma ela, cujo espaço de trabalho, no bairro Exposição, se chama Jardim Jardim.
Este florescer de diferentes vetores de trabalho a colocam em constante estado de aprendizado. Na metade do ano, esteve em uma residência artística em Durham, na Carolina do Norte, no American Dance Festival. Mais uma vez, buscou parcerias para sua construção artística.
— Não me interesso pelo virtuosismo, gosto de olhar para os lados. Gosto de dançar com o outro, que me ajuda a fluir um pouco mais. Preciso de pessoas, não consigo viver sozinha — revela.
Essa ideia do convívio é o que também move seu cotidiano ao lado dos sobrinhos Enzo e Giorgia Lisot e Amora Stroher — "eles resolvem toda a minha maternidade", afirma a "tia Kiki" — e do marido, Giuliano Bianchi, seu parceiro de viagens entre extremos: de Singapura ao Vietnã, de Aspen a Havana. E a casa deles é o espaço das dramaturgias do encontro.
— Gosto de ficar sozinha, mas também adoro reunir muita gente, arrumar a mesa, preparar a cenografia para receber os amigos — conta.
Leia também
À espera de um Noel: na luta contra o alcoolismo, Daniel pede orações para um dia rever o filho
À espera de um Noel: fã de Tonico e Tinoco, morador do Lar da Velhice São Francisco quer ganhar disco de Natal
À espera de um Noel: atendida pelo Centro Assistencial Vitória, Nicole escreveu cartinha pedindo uma boneca