A geração entre os dezoito e trinta anos, numa estimativa aproximada, está trocando os compromissos com os rituais religiosos por algo mais solto, sincrético. É a conclusão a que chegaram os estudiosos através de diversas pesquisas de campo tendo como tema a questão. O número de ateus ainda é consideravelmente pequeno, mas cada vez menos eles acatam a ideia de se submeter a regras morais rígidas ditadas pelos “administradores” de igrejas e templos. Hoje eles buscam uma conexão com a transcendência a partir de credos ligados a uma perspectiva individual e, em muitos casos, à natureza. Talvez seja o resultado de dois fatores. O primeiro é a disseminação de uma individualidade que os leva a fazer escolhas a partir de juízos próprios. Deixam de se subordinar a um catecismo tendendo para a repressão dos instintos. O segundo pode estar atrelado ao aumento do senso crítico a partir da constatação de denúncias de abusos sexuais e psicológicos por parte dos líderes que deveriam servir de exemplo. Este é um tempo em que a liberdade tem o status de direito e poucos aceitam dizer amém sem algum tipo de questionamento.
Coloque-se na balança também o fato das pessoas terem na ciência um substituto para o conceito de divindade, absorvendo o primado da razão como um centro vital. Infelizmente, em meio a essa explosão de racionalidade, ainda encontramos um número significativo de criaturas adotando o negacionismo como modo de viver. Porém, damos um salto gigantesco no sentido de exercitar a autonomia de pensamento. Passamos por uma espécie de iluminismo tardio, por assim dizer. Acredito ser a fé uma benção, sendo o ateísmo a solução mais remota para algum problema. A psicologia já tornou evidente essa verdade: sem a repressão de algumas pulsões não haveria sociedade e é provável que ainda estaríamos nos matando uns aos outros com espantosa banalidade. Mandamentos servem para coibir atitudes violentas. Somando tudo, nos encaminhamos para uma época em que o sentido do divino permanecerá, mas o de rebanho passivo não. Como tudo, ganha-se e perde-se. De minha parte, prefiro mil vezes essa autonomia a fazer parte de um projeto tendo como objetivo principal tornar manifesta a sede de poder que grassa entre nós.
Alguns jovens entrevistados disseram preferir se afastar de instituições que condenam comportamentos sem a presença do diálogo. Eles acolhem a diversidade como algo natural, do tipo “se fulano é feliz, para mim tudo bem”. Ainda é cedo para saber se é um modismo ou a recusa de conformar-se com amarras. Vejo a mudança com interesse e considero saudável a possibilidade de tirar da mão de meia dúzia de seres “ungidos” o destino da humanidade. Abre-se um caminho de autonomia com vantagens e riscos. Padres e pastores continuarão empregados, mas terão de se haver com fiéis menos dóceis. No fim, todos ganharão.