Ouvi essa frase em um podcast do professor Clóvis de Barros Filho. Achei instigante. Traduz um estado de alma praticamente ausente em nós. O mercado despeja múltiplas novidades, logo obsoletas, seguidas dessa ordem implícita: se estragar não conserte: substitua. E o mundo se transformando num imenso depósito de lixo. Afinal, poucas coisas são voláteis. Elas desaparecem dos nossos olhos, mas permanecem ocupando outro espaço. Uma das consequências nefastas dessa ânsia de adquirir compulsivamente o mais recente produto é sermos impedidos de nos saciar longamente com algo. Um detalhe diferente no designer e lá vamos nós às lojas físicas ou à internet em busca do que, presumimos, nos trará satisfação plena. Não sonho em viver numa época de precariedade. A evolução e o progresso tornaram a vida bem melhor, com conforto e qualidade. O livro Paris Babilônia, de Rupert Christiansen, mostra, por exemplo, que a capital francesa foi, em tempo remoto, um antro de sujeira, doenças e degradação. As luzes e o glamour vieram depois, ancoradas no processo civilizatório. De onde se conclui ser essencial aprimorar e sofisticar as estruturas materiais nas grandes metrópoles.
Sou favorável a tudo que torne a existência agradável, cômoda. Mas me nego a engrossar a turma dos encantados pelos objetos expostos nas vitrines. Ops, essa palavra já quase nem cabe aqui, diante da abundância virtual. Enfim, a capacidade de discernir entre o necessário e o supérfluo parece ser uma saudável opção quando temos o propósito de embalar os dias com menos angústia e ansiedade. Nas palavras do filósofo, desejar deve suplantar o possuir. Evitarei fazer a apologia da falta, da carência, reforçando o valor do comedimento. Ou, como me disse certa vez um colega: “Eu posso, mas não preciso.” E aí a gente começa por entender a distância até chegar à posse. O fastio pode ser a consequência imediata desta última. Cansar-se rapidamente dos brinquedos, sobretudo quando eles estão espalhados por quase toda a casa – como temos visto isso por aí! Sei da dificuldade de manter o equilíbrio. Somos constantemente seduzidos, pois tudo brilha e nos chama. E há o fato de ser cada vez mais difícil acessar a tela do celular e do computador, ou mesmo folhear uma revista, sem o bombardeio de propagandas de toda ordem. Eu me orgulhava de ser um alienado feliz. Está ficando difícil inserir em meu cotidiano essa afirmação hoje. E nem tenho assinatura de periódicos ou de canais de TV. O problema é que, de alguma maneira, os profissionais desse mercado nos encontram.
Se você anseia, adquira, mas em estado permanente de atenção para não ficar soterrado por tantas ofertas. Faz parte da natureza humana a vontade de saciar-se quando tem fome. Nossa inclinação é a de amar aquilo que ainda não temos. O escritor francês André Gide nos ensinou: a posse é sempre falsa, vale mais o querer.