Recebo um vídeo pelo Instagram. Uma mulher do interior mineiro, com saboroso sotaque interiorano, vai falando sobre a diferença entre pessoas inclinadas a ver o lado bom da vida e as que o obscurecem. Numa linguagem singela, coloquial, desfila situações nas quais observamos com clareza quem se encaixa em um ou outro grupo. A palavra parece desempenhar um papel definitivo neste contexto e, às vezes, uma simples inversão na ordem das coisas provoca grandes mudanças. Depende da aptidão em dar ênfase ao que verdadeiramente interessa. Alguns exemplos, segundo ela, definem claramente os pessimistas e os otimistas: Sobre os filhos: “é uma bênção, mas dá trabalho; ou, dá trabalho, mas é uma benção”. Quando adoece: “está melhor, mas ainda está doendo; ou, está doendo, mas já está melhor”. Se vai a um restaurante, diz: “é gostoso, mas é caro; ou é caro, mas é gostoso”. É conveniente deixar o encantamento por último, lembrando: só dói até passar. Uma variação de perspectiva dimensiona totalmente o que se apresenta diante de nós. Ou seja, de certa maneira, podemos alterar a realidade. Basta dar destaque ao positivo – e comumente o há.
Tenho pouca paciência com gente resmungando e reclamando compulsivamente. É uma imperdoável perda de tempo e, convenhamos, um peso desnecessário colocado sobre os ombros. Prefiro, mil vezes, estar próximo dos compulsivamente felizes. Alguns os chamam de alienados, mas me parecem, pelo contrário, capazes de aproveitar o que lhes é jogado no colo. A mente filtra sutilmente os fatos. Aproveitemos, então, para extrair algo parecido com o sol, não com um nebuloso dia de inverno. E no mais trivial mesmo, pois é na banalidade do cotidiano, sem nada de excepcional, que quase tudo acontece. No começo até parece meio forçado, distante da nossa maneira de ser e sentir. Mas isto também é uma questão de mudar de hábito. O estranho passa a ser familiar logo, logo. E, sem nos darmos conta, vamos espalhando alegria em meio a um sem número de seres acostumamos a contaminar o mundo com sua negatividade.
Não é somente com doutores e filósofos que nos instruímos. Assimilei isso bem cedo, convivendo com pessoas sem estudo algum, mas extremamente sábias. Usavam a própria experiência para depurar o universo ao seu redor. Muitos tinham existências repletas de penúria, com sua capacidade de resistência sendo testada constantemente. Aprenderam, pela intuição, a deixar para o final a pepita de ouro em meio à montanha de terra ressecada. São homens e mulheres merecedores de incontestável respeito. Um sorriso no rosto, a despeito de estarmos debilitados por circunstâncias ruins, mostra que no humano reside um deus andando de mãos dadas com cada um de nós.