Para Epicuro, filósofo grego nascido no terceiro século antes de Cristo, a vida tem como propósito a felicidade. Ela é alcançada através da aponia, a ausência da dor, ou pela ataraxia, definida como a tranquilidade da alma. O homem deve se esforçar, elevando-se a tal condição, mas a existência lhe ensina o caminho para tanto. Afastar-se dos excessos, buscando o que ele chamou de prazeres naturais. É a capacidade de se contentar com o que temos diante de nós. De pouco carecemos para o bem-estar. A saúde do corpo e o espírito domando as paixões já nos garantem a serenidade. Tudo o mais faz parte do exterior, de uma vontade imposta pelos costumes, hábito ou inconsciência. Manter- se alheio a esses apelos revela o verdadeiro caráter do sábio. Evitará abrigar-se longe do mundo, mantendo-se inserido na realidade. A diferença entre ele e quem não procura esse propósito é acreditar no desejo como algo passível de estancamento, depois de satisfeito. Há pontos de convergência entre esses ensinamentos e o budismo. Ambos propõem uma distância sutil do tumulto e do rumor. Cada um participa da ordem dos dias, porém, sem se manter ligado a algo tão volátil como as emoções.
É um bom tema para reflexão: a habilidade de fixar-se em um centro e ali plantar raízes. Ao contrário do que se preconiza hoje, a experiência variada nem sempre é sinônimo de estarmos no caminho do aperfeiçoamento. O espírito refina a percepção e alça voos maiores, mantendo-se indiferente à instabilidade. Pense no sofrimento gerado pelas ações que não podem ser controladas. Ater-se a isso é flertar com a angústia e a impotência. Perdemos a liberdade, princípio maior para sair do rés do chão.
Para os adeptos das antigas tradições, a amizade adquiria um caráter superior ao do amor. Longe das amarras do ciúme e da posse, criava uma espécie de comunidade com objetivos elevados. Os discípulos viviam próximos, num local chamado de Jardim. Lá, todos eram bem-vindos, inclusive os escravos e as mulheres, categorias comumente destinadas a receber, na época, o desprezo dos detentores de poder. De onde se conclui: tempos houve em que fomos mais modernos. Essa palavra entendida aqui como a aptidão de absorver e incorporar conceitos inéditos e transformá-los em sistemas comportamentais.
Estudar. Aprender. Constantemente. Olhar para o passado como a mais rica possibilidade de nos traduzir agora. Verdades que recebem a chancela do definitivo precisam ser colocadas em perspectiva. O pensamento evolui, mas temos dívidas eternas com alguns seres que nos precederam e instauraram uma nova ordem entre nós. Toda escola de saber é um laboratório, um templo. Sejamos alunos atentos, praticando nosso evangelho e mantendo-nos despertos.