E agora, José? O verso de Drummond parece mais atual do que nunca. Paira no ar essa interrogação. O que fazer se os abraços, os beijos e qualquer manifestação amorosa podem representar um perigo iminente? Quem sabe até quando nossos desejos deverão ficar encarcerados. Mesmo casais longevos evidenciam certa preocupação. Afinal, continuamos interagindo com as pessoas, embora minimamente. A salvo ninguém está. Porém, reza o bem senso: é premente encontrar um ponto de equilíbrio entre o necessário cuidado e o espaço, ínfimo que seja, para o contato com o outro. Se isso não acontecer, corremos sério risco de adoecer mentalmente. Aliás, profissionais da área de saúde mental sinalizam o aumento gigantesco de casos de ansiedade e depressão. Pois se o toque, o encontro, tornaram-se um campo minado, urge repensar severamente uma alternativa para a adaptação parecer menos aflitiva. Até quando?, perguntarão os incapazes de conter seus ímpetos, mordendo a vida em grandes bocados. Neste momento, toda conjectura é vã. Faltam-nos dados para efetuar uma prospecção segura. Penso, no entanto, que transformar a fé num artigo secundário, raramente acessado, traz um auxílio praticamente nulo. Aposto nela e, reiteradamente, na ciência. Os laboratórios são os novos templos. A expectativa de cura soa hoje como uma espécie de milagre.
Opinião
Gilmar Marcílio: como fica o amor?
Faltam-nos dados para efetuar uma prospecção segura
Gilmar Marcílio
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