Talvez a pergunta mais importante, em termos filosóficos, que podemos nos fazer neste momento, seja esta: “E depois que tudo isso passar, nos tornaremos seres humanos melhores?” Um rápido olhar pela história mostra que hecatombes, guerras e pestes não têm exatamente um poder purificador sobre a nossa raça. É evidente que, quando sofremos, a consciência e a sensibilidade acabam por se aguçar. Ficamos atentos, observando com acuidade o que antes pertencia à ordem do banal, do esquecível. Porém, com a normalização e a volta a uma rotina que tantas vezes entorpece, a tendência é que nos acomodemos ao fluxo natural da existência. Sem pensar ou refletir com constância. Como contraponto, vale lembrar que prosperamos pela ação, impondo certa ordem nas coisas. O fato é que todos parecem aptos a ponderar quais perigos nos pareciam inexistentes até então. A presença de um vírus letal roçava vagamente o imaginário. Nada além disso. Agora fomos sacudidos de um torpor atávico. Acordamos a contragosto e nos percebemos imersos numa realidade moldada pelo sombrio e pela incerteza. Manter a alma serena exige um esforço extra, trabalho que tantos parecem se sentir inábeis a executar. Estão presos em suas casas e dentro de si mesmos.
Opinião
Gilmar Marcílio: e depois?
O fato é que todos parecem aptos a ponderar quais perigos nos pareciam inexistentes até então
Gilmar Marcílio
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