Para muitos de nós, criados sob a influência de princípios religiosos, é necessário refletir exaustivamente até sermos capazes de entender que não existe uma única manifestação verdadeira do divino. E que ela não está, necessariamente, com quem prega a nossa doutrina. Quando saímos do jardim da infância das ideias, percebemos que essa noção sustentou, ao longo da história, guerras e intolerância. A construção de um juízo mais adulto nos ensina a relativizar tudo – é esse o caminho para que o fanatismo não se torne um filhote pernicioso das crenças. Alguns, ao descobrir a prisão que é filiar-se a algo, aderem a um ateísmo tardio. Que passa a ser, só que com outra linguagem, uma espécie de fé. Por isso, é preciso estudar tudo o que o pensamento humano edificou para justificar o mistério. Ralar os joelhos nas igrejas ou vociferar contra um mundo que se revela pela indiferença, parece ser duplamente falso. De qualquer maneira, é difícil ter um posicionamento de equilíbrio quando o assunto é esse.
Particularmente, passei pelos mais diversos estágios. A adolescência foi carregada de medos, com um ser onipresente vigiando o menor dos gestos. O corpo, eterna fonte de pecado. Deve ser por isso que a palavra “proibido” ainda me assombra. Mais tarde, analisando a concepção de grandes teóricos da mística, percebi que uma boa postura seria a de manter certa neutralidade, questionando constantemente. Mas não a ponto de causar conflitos que paralisam a vida e ampliam os desertos. Alguns anos frequentando templos dos mais variados credos me mostraram que, ao fim e ao cabo, estamos buscando todos as mesmas coisas, o mesmo entendimento. É inaceitável o fato de que se necessita duelar em defesa de algo ou de alguém que propõe a pacificação. O limite da insanidade é mesclar tudo isso no caldeirão da política. Estamos vendo, aqui no nosso país, que não está dando muito certo. A menos se tivermos a coragem de usar a palavra que mais reflete a realidade deste novo projeto: ampliação de poder. Porque geralmente ambos se misturam. O problema é que essa entrega geralmente prescinde de qualquer posicionamento crítico. E aí, os que se comprazem em mandar, encontram terreno propício para suas ladainhas.
Não gosto de ser catequisado, seja em que área for. Tampouco aprecio caráteres niilistas, desconsiderando o que pode ser também uma possibilidade. Que sabemos nós, presos a deficitários cinco sentidos? Estudar sempre - esta tem sido a minha divisa existencial. Evitar discussões tolas, sabendo de antemão que o mais complicado é abdicar dos nossos argumentos. Mantenho Deus próximo, mas pouco o invoco ritualisticamente. Meu jeito de praticar o que acredito pode ser diferente do seu. Nem melhor, nem pior. Reconhecer isso é um bom caminho para o apaziguamento. Do corpo e da alma. Do mundo.
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