A literatura explorou à exaustão a possibilidade dos seres humanos se tornarem imortais. Virgínia Woolf, na obra Orlando, e Simone de Beauvoir, em Todos os homens são mortais, criaram personagens inesquecíveis, atravessando séculos de vida. Experiência solitária, posto que o que a eles foi dado absorver e conhecer se constituía em exceção, com suas respectivas bênçãos e maldições. Algumas décadas nos separam dessas existências imaginadas e eis que, nos primórdios de 2020, isso já é visto como uma realidade tangível. É o que diz também o brilhante historiador israelense Yuval Harari: “Em breve a morte será opcional.” Essa afirmação me assusta e me perturba, e acaba suscitando uma série de indagações metafísicas. Ressalto que sou um grande aficionado dos avanços alcançados pela ciência. Um homem guiado unicamente pela fé tende a sedimentar seus preconceitos numa linguagem que o desobriga de comprovação. Para ele, a realidade precisa se curvar não diante das evidências, mas do mistério. E assim nasce o poder de manipulação que tem o seu embrião nas sacristias e se dissemina exponencialmente entre aqueles que evitam abrigar na mente a dúvida e uma certa dose de ceticismo.
Opinião
Gilmar Marcílio: a vida sem a morte
Precisamos pensar sobre essa questão com a seriedade que merece
Gilmar Marcílio
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