Gilmar Marcílio

Escritor, filósofo e palestrante. Autor de oito livros, entre eles, A Elegância do Silêncio e Jardim de Bolso. É curador da Galeria de Arte Gerd Bornheim e da Sala de Cinema Ulysses Geremia, em Caxias do Sul. Gosta de viver dialeticamente, cercando-se de silêncio e indo em busca de encontros. Lê poesia diariamente, faz longas caminhadas pelas pequenas estradas do interior, onde mora. Aprendeu, com Sêneca, que quem não é dono de dois terços de seu dia, é escravo. Não é. Medita, lê, cultiva o senso de humor. É feliz.

Opinião

Gilmar Marcílio: em busca do sol

Quem, em algum momento, não percebeu a alma fraturada, as forças lhe faltarem e uma vontade de desistir?

Gilmar Marcílio

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Pode-se ler, em uma das divagações poéticas da escritora Nélida Piñon, estas frases: "Falta-me vocação para ser triste. Tenho riso fácil. No entanto, sem aparentar, tenho feroz vocação para a solidão, que é o lugar metafísico onde melhor me encontro." Se existisse um epitáfio para a vida, certamente este seria o meu. Todas as vezes em que perdi, chorei, senti-me abandonado, tinha esse pensamento recorrente: preciso sair logo dessa escuridão. Posso aceitar a dor como um componente natural do ser humano, mas jamais a exultarei, pois ela nos desloca dos centros vitais da própria existência. É como se eu fosse empurrado para fora, em busca do sol. Nesta breve passagem por aqui, sei que o maior compromisso é espalhar a alegria, que reverencio como uma deusa pagã. Quem, em algum momento, não percebeu a alma fraturada, as forças lhe faltarem e uma vontade de desistir? No entanto, é dever de cada um domar esses sentimentos, dando-lhe a fisionomia do que é passageiro. Nenhuma felicidade deve ser clandestina, pois nossos propósitos devem ser direcionados para as manhãs límpidas, não para os ocasos, o breu, o que agoniza. Por mais que nos sintamos desamparados, não devemos nos deixar humilhar pela desistência.

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Planto âncoras ao redor: não quero ser carregado pelas tempestades. Trago versos no coração como escudos que me protegem das agressões alheias. O olhar insiste em acolher os nascimentos, o que brota. Enquanto muitos pesam, vociferam, reclamam, tento oferecer um gesto manso, uma escuta atenta, meu silêncio. Repouso sobre os seres e as coisas e tudo me parece tão belo. Mas confesso: nutro certa dificuldade em conviver com pessoas eternamente descontentes, que são mesquinhas. Quem se preocupa com centavos, não sabe a maravilha que é ser perdulário, ofertando, sempre ofertando. Num gesto de autoproteção, abraço a imaginação e vou para dentro de mim. É onde me preservo e me renovo, aprendendo outros cantos para quando eu for convocado a partilhar novamente.

Não deixo o rosto ser vincado pela desilusão. Minha liberdade interior me expulsa dessas regiões pantanosas que não são mais habitadas pela esperança. Continuo acreditando que tudo vai melhorar. Crio dentro de mim um laboratório espiritual para multiplicar a consciência de como sou privilegiado. Não me faltam amigos; sou amado e amo com renovada insistência. Armazeno alimento para estações de estio.

A melhor pedagogia, afinal, continua sendo a gratidão.

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