Vida é movimento. Se ficamos parados, há uma tendência em atrofiar não somente o corpo, mas também nossa visão de mundo. Caminhar, interagir, fazer trocas. Cada um precisa misturar-se, colorir os pensamentos com ideias colhidas em livros, filmes, contatos interpessoais. Muitos se mantêm reféns de si próprios, apegando-se a um modo de ser e agir que não muda com o passar do tempo. A consequência disso é que acabam traindo o princípio darwiniano da evolução: a capacidade de adaptar-se. É difícil saber de antemão o melhor rumo a seguir. Mas os que apostam no escuro geralmente acabam sendo mais bem-sucedidos. Recentemente conversei com um senhor que cuida de um filho com sequelas decorrentes do uso de drogas. Faz isso há quinze anos. Ele viu minha expressão de espanto e, antes mesmo que eu fizesse uma pergunta, me disse: "Levo uma vida normal, faço tudo como se não sentisse o peso desta responsabilidade. No começo sofri bastante, mas agora aprendi que isso não poderia ter a dimensão de uma catástrofe. Aconteceu. Poderia ser com você, com meu vizinho, com um colega de trabalho. Por acaso, foi comigo. Aprendi a ter uma relação de imenso carinho com ele. O que não existia antes, aliás. Não existem cobranças e nem culpas de ambos os lados."
Opinião
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