O inusitado se verificou na sessão desta quinta-feira (18/7) da Câmara. Uma singela homenagem em forma de projeto para denominação de via, no caso uma estrada municipal na Terceira Légua, acabou em “quiprocó”, e dos rumorosos. A homenagem em questão, foco de projeto de autoria do vereador Rafael Bueno (PDT), propôs a denominação da via com o nome de Sadi José Sartori, que foi fundador e proprietário da Vinícola Sartori, na mesma localidade. Bueno contou a história do morador e produtor rural e solicitou ao poder público que dê mais atenção ao interior. O filho de Sartori, Celso, a nora, Sílvia, e a neta, Débora, acompanharam a aprovação do projeto em plenário. Na foto, os três com o vereador Bueno.
A apreciação do projeto transcorria normalmente até a fala do vereador Velocino Uez (PRD), que foi interrompido por um desabafo forte de Celso, vindo da plateia, quanto às condições da via, que carece de melhorias em um acesso acentuado em curva, e sua peregrinação por governos anteriores e no atual. As melhorias são importantes até para estímulo ao turismo. Assim, foi Celso quem introduziu a abordagem política imprimida à homenagem. Velocino dizia que conhecia o homenageado.
– Poderíamos discutir (ele e Sadi) por ideologias partidárias (visões diferentes), mas não da amizade e do trabalho. É um reconhecimento justo... – estava dizendo, quando foi interrompido.
O desabafo de Celso exigiu da presidente Marisol Santos (PSDB) a suspensão da sessão por cerca de cinco minutos, até que os ânimos serenassem.
O clima estava formado e, no retorno, Velocino prosseguiu seu discurso redobrando a sensibilidade para os familiares do homenageado – afinal, era uma homenagem. Porém, o estrago estava feito. A homenagem escancarou as portas para a abordagem de problemas urbanos, e com viés político. Até um “só trocam lâmpada de rico” surgiu na argumentação.
– O próprio prefeito podia ir lá (na estrada municipal). Resolve os problemas. Trocam só lâmpada de rico. Tem que dar dignidade para esse povo trabalhar – disse Bueno.
O debate acabou se estendendo, com vereadores tratando de colocar algodão entre cristais, mas não abandonando o debate político em meio à homenagem. Ao fim e ao cabo, o projeto que denominou a via da Terceira Légua foi aprovado por unanimidade dos vereadores presentes, com 20 votos.
O que foi dito pelos vereadores
* “Aqui é uma casa política. Aqui não é nenhuma creche para fazer recreio. Aqui, a gente usa todos os espaços para cobrar os problemas urbanos. E não tem espaço mais propício de narrar um problema.” Rafael Bueno (PDT), proponente do projeto
* “Se usou da homenagem para fazer política.” Daniel Santos (Republicanos)
* “Isso diminui a homenagem, envergonha o Legislativo, depõe contra toda a classe. Usar uma família, incitar uma família, é um oportunismo infantil. Num momento político, se usa de palanque político. A gente lamenta e espera que não se repita. A homenagem deve ser homenagem.” Lucas Diel (PRD)
* “Era uma grande homenagem e que saiu um ato político. Lugar de política é onde houver duas pessoas.” Renato Oliveira (PCdoB)