Os três vereadores que já surgiram no cenário legislativo de Câmaras da região responsabilizando árvores pelo deslizamento de encostas não são caso isolado. Deve haver mais. (Os três vereadores são Sandro Fantinel, do PL, de Caxias do Sul; José Bortolini, o Zé da Patrola, do PDT, de Garibaldi; e Cássio Fachi, do Progressistas, de Garibaldi). A região ficou exposta nacionalmente, em um momento de tragédia climática, por discursos de, digamos, “desapego” ao meio ambiente. Evidencia a fragilidade de nossa cultura ambiental. Essa é uma cultura da região, cortar árvores, que até tem raízes históricas, que remontam ao desbravamento. Mas os tempos são outros, e já faz tempo. O prefeito Adiló Didomenico voltou da Conferência do Clima, a COP 28, da qual participou em Dubai, no fim do ano passado, impactado pela exigência do debate planetário acerca do meio ambiente e reconhecendo a importância de políticas ambientais locais. O tema do meio ambiente e uma cidade sustentável precisa ser central na campanha eleitoral deste ano.
A receita de cortar árvores para conter deslizamentos em rodovias é apenas uma ponta da infinidade de aspectos ambientais que precisam ser observados. A receita é simplista, sem fundamento na ciência. A questão dos impactos ao meio ambiente é muito mais ampla. Cortar uma única árvore, no atual cenário, já é um impacto significativo. Nesse sentido, chama atenção o corte de um pé de ipê no centro da cidade em meio à tragédia climática, no dia 8 de maio. A cidade tem obrigação de aprofundar o debate sobre o meio ambiente e de protegê-lo, sob pena de a tragédia climática se agravar. A Secretaria do Meio Ambiente deve dar o exemplo. Precisa de mais recados?
A Câmara está criando uma Frente Parlamentar para Enfrentamento às Mudanças Climáticas e vai desmembrar a Comissão de Saúde e Meio Ambiente, criando uma só para a pauta ambiental, assunto que a Câmara não debateu nessa legislatura, nem nas anteriores. Será muito mais difícil a partir de agora – ou precisará ser – aprovar projetos na Câmara que flexibilizem a legislação ambiental. As escolas precisam trabalhar a proteção ao meio ambiente à exaustão. Contribuir com a conscientização e educação acerca do tema é um dos objetivos da frente parlamentar. A irresistível inclinação para cortar árvores – e esse é só um exemplo – sinaliza que construir essa consciência ambiental deve ser o objetivo central, para criar outra cultura entre nós, de respeito ao meio ambiente.