A fala desastrada do vereador Sandro Fantinel (sem partido) no plenário da Câmara, em 28 de fevereiro, quando fez um discurso xenofóbico contra trabalhadores baianos, chega a seu desfecho nesta terça-feira, dia marcado para votação de processo que requer a cassação do parlamentar. A sessão deve ser extensa, a depender da leitura das páginas do processo – se será feita ou não – e das manifestações dos vereadores, que poderão falar por até 15 minutos. Nem todos usarão o tempo. Também a defesa poderá se manifestar por até duas horas.
O Caso Fantinel chega ao dia da votação com uma tendência, de que o vereador se salve da cassação. Uma das razões é que, para ser cassado, são necessários os votos de dois terços dos 23 parlamentares, isto é, 16 votos. Significa que Fantinel precisa de oito votos contrários à cassação, o que não é um número difícil de ser obtido. Ele dispõe de parlamentares que lhe são próximos politicamente, e que lhe alcançam entre cinco e seis votos. Nos bastidores da Câmara, a contagem dos votos para salvar Fantinel variava ontem entre oito e 11.
Além disso, as movimentações da véspera indicavam outras sinalizações importantes. A principal delas é a confirmação de que o atual secretário de Turismo, Ricardo Daneluz (sem partido), reassume sua cadeira na Câmara, no lugar do suplente do PDT e líder do governo, Lucas Diel. Próximo de Fantinel, com quem é alinhado politicamente em torno de posições bolsonaristas, Daneulz é voto tranquilo com quem Fantinel pode contar. Outra pista vem da decisão de voto do vereador Olmir Cadore (PSDB):
– Quase pronta a decisão. Não falei com ninguém do PSDB. Com outras pessoas eu conversei. Mas do PSDB, não conversei com ninguém. É um voto meu. E cada um do partido vai votar conforme seu pensamento – disse ele.
Apesar de estar no PSDB, Cadore também tem proximidade política com Fantinel. E é sintomático o destaque de que o voto é seu, sem ter conversado com “ninguém do partido”. A vereadora Tatiane Frizzo (PSDB), por exemplo, subscreve a recomendação da Comissão Processante, pela cassação, que ela presidiu.
São duas movimentações que devem se somar à base de vereadores que sempre foi próxima a Fantinel, para garantir a contabilidade numérica que ele precisa para se salvar. Essa era a tendência da véspera, de que a recomendação da Comissão Processante, pela cassação, não reúna o número de votos necessário para ser acolhida.
Votação transmite recado
Os votos que podem salvar Sandro Fantinel da cassação sustentam-se na proximidade política com o vereador e em eventual entendimento de que a cassação possa ser uma punição considerada excessiva. Ocorre que essa votação, seja qual for o resultado, transmite um recado a respeito da fala de 28 de fevereiro. Recado que será recebido pelo país, que sempre esteve bastante atento aos desdobramentos do caso.
O resultado da votação carrega consigo esse aspecto, de colocar em evidência a Câmara e a cidade, ao amparar o discurso de Fantinel, a ponto de manter seu mandato, ou não. Esse é o significado da votação desta terça-feira na Câmara. Ela não se esgota na questão doméstica local.