A posse de Luiz Inácio Lula da Silva para seu terceiro mandato na Presidência tem um diferencial em relação a todas as outras: Lula passou 580 dias preso na sede da Polícia Federal em Curitiba. Entregou-se à Polícia Federal quando havia determinações a cumprir. E as cumpriu. Sem entrar no mérito das decisões judiciais no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF), sua defesa percorreu-as todas, que foram sendo vencidas, uma a uma. Foi solto 580 dias depois de preso na Operação Lava-Jato, após condenação em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), e solto quando o Supremo decidiu, por 6 votos a 5, que o cumprimento da pena só poderá ocorrer depois do trânsito em julgado da condenação. Como, aliás, está previsto no Artigo 5º da Constituição. Todos os movimentos, portanto, deram-se dentro das “quatro linhas”, como se convencionou chamar.
Sem condenações, Lula foi liberado para concorrer à Presidência novamente. E assim o fez, e passou pelo teste das urnas, tendo sido eleito com 60,3 milhões de votos, ou 50,9% dos votos válidos. Sua posse, portanto, tem esse significado especial para Lula e o significado político da mudança de rumo para o país, após o mandato de Jair Bolsonaro, que se encerrou nesta sexta-feira, quando embarcou para os Estados Unidos. É uma trajetória da prisão ao Planalto, para onde Lula retorna presidente, em obediência às regras do jogo democrático. Esse é o diferencial da posse, que chega ainda em um momento conflagrado, com manifestantes em frente aos quartéis a reivindicar, faz dois meses, intervenção militar. Alguns ainda acreditam nela.
Este domingo foi, por tudo isso, um dia histórico para o país. O governo que começa tem uma representação ampla, além dos muros do PT, o partido do presidente. É um bom sinal. Agora é o momento de virar a página e tocar a vida em frente, pois há muitos desafios a serem encarados para melhorar a vida dos brasileiros. A eleição passou.