O professor de ética e filosofia da Unicamp, Roberto Romano, é mais uma vítima decorrente da covid-19 neste país. Morreu nesta quinta-feira (22/7), aos 75 anos, cedo demais. É uma perda inestimável. O filósofo Roberto Romano era um pensador sobre a realidade nacional e sua reflexão iluminou e orientou etapas e caminhos do país. Na edição de 15 de maio de 2017, ele foi o entrevistado do Pioneiro para a tradicional seção Entrevista da 2ª, conduzida pela jornalista Juliana Bevilaqua.
Confira alguns dos pensamentos que ele expôs sobre a realidade nacional naquela entrevista, a partir da conjuntura daqueles dias, mas que permanecem válidos como uma tradução do comportamento e do cenário político nacional. Seguem valendo como uma reflexão atual.
“Do ponto de vista da sociedade, nós não avançamos um milímetro, pelo contrário. Veja a matança de indígenas, a matança de homossexuais, a violência urbana, o trânsito brasileiro. Você continua exatamente no mesmo lugar ou, talvez, até pior. Acho que falar de uma mudança para melhor em termos éticos no Brasil é otimismo excessivo.”
“O Brasil é o país dos salvadores. Nós tivemos a ditadura Vargas, onde Getúlio Vargas era o grande salvador dos pobres e da pátria. Depois, o governo de Jânio Quadros, que viria salvar o Brasil da corrupção. Depois, o golpe de 64, em que o governo ditatorial seria o grande salvador da Nação contra a corrupção. Depois, a eleição de Fernando Collor, que iria acabar com a inflação e a corrupção em três dias. Depois, Luiz Inácio da Silva. Depois, com o mensalão, Joaquim Barbosa colocado como salvador da pátria. E, agora, Sérgio Moro, e também já está aparecendo no horizonte Jair Bolsonaro. Isso é próprio de uma cidadania que não assume sua responsabilidade, que não assume sua maioridade, precisa de um tutor, de um paizinho para cuidar dos negócios. Enquanto o Brasil estiver nesse estágio de elevar indivíduos ao papel de salvador, de herói, nós estamos muito mal.”