Adolescentes estão atrás de smartphones. É uma tendência majoritária e uma probabilidade. Prosperam entre nós, ainda que sem uma fundamentação mais precisa, uma ideia e um senso comum de que as novas gerações, isto é, centralmente os adolescentes, sabem cuidar melhor do meio ambiente do que os que vieram antes deles. Em parte, essa noção é real, em parte não é. Como regra geral, obediência a regras ambientais decoradas pode não ter base sólida. Valorização da convivência e daquilo que é comum a todos, aí sim. Esse passa a ser um aprendizado essencial.
Adolescentes há de diversos perfis, estilos, personalidades e gostos. Ainda bem. É bom quando saltam aos olhos e se revelam as individualidades. O conceito de tribos, muito vinculado a adolescentes, dificulta e leva por diante a saudável manifestação pessoal. Mais preocupante ainda são os bondes, que carregam junto o componente da violência. Adolescentes, como qualquer tema relacionado e vivenciado por seres humanos, não se prestam a teorias e teses gerais. Mas há também o que se vê nas ruas e se fica sabendo dos noticiários.
Adolescentes explodiram em tumulto domingo à tarde na Avenida Itália. Há relatos de agressões e ameaças a quem passava, ou entre eles. Os vídeos circulam pelas redes sociais. É situação recorrente, um sintoma da cidade. Sintoma é o que vem à tona, e é preciso identificar sintoma de quê. Preocupa pelo descontrole da situação, mas em especial pelo diagnóstico possível. Parece claro: faltam opções de lazer e entretenimento para a rapaziada, que, sem alternativas, se reúne e vai atrás do que fazer, sujeita a influências de qualquer ordem, ao primeiro grito. Algumas ações voluntárias buscam propor alguma orientação ou organização no âmbito das atividades comunitárias e culturais, mas nitidamente elas vão na contracorrente e não dão conta.
Há mais sintomas: adolescentes estão sendo assassinados. Seguem sendo. Foram três em uma única sequência de 24 horas agora em janeiro: 14, 15, 17 anos. Não pode. É preciso desenvolver ações, poder público, comunidades, órgãos e entidades da área e os próprios jovens para pelo menos distanciar ou dificultar que sejam alcançados por esse universo sombrio que pode culminar em vidas perdidas na adolescência. Um enorme desafio, mas a cidade, há muito tempo, desvia-se dele.
Não devemos esquecer ainda que Greta Thunberg, a sueca ativista ambiental que ganhou o mundo ano passado, é uma adolescente de 16 anos. Surgiu em outro mundo, da valorização do sistema educacional, do estado de bem-estar social, experiências que desconhecemos por aqui.
Adolescentes oferecem várias possibilidades. Eles estão aí, ao sabor das ondas, que, não raro, até os levam. Construir essa relação conjunta com os adolescentes da cidade é vital e precisa ser entendida como uma prioridade. Como se vê por aqui, não tem sido.