Assim, sem mais nem menos, a adolescente Greta Thunber irrompeu no cenário internacional e entrou em nossas casas. Para muita gente, a proatividade desta sueca de 16 anos trouxe desconforto. Greta adquiriu visibilidade planetária por sua luta em defesa do meio ambiente, que toca na ferida do modo de vida e de produção a que estamos acostumados, o que, em outros tempos, poderia se chamar de “establishment” econômico, de crescimento a qualquer custo. Disse a adolescente que os líderes mundiais deveriam se envergonhar por sua falta de ação diante das alterações climáticas. Algo que, de resto, como sociedade internacional, sabemos há décadas, sem nada fazer.
Pois essa proatividade de Greta só pode ser entendida dentro de um contexto de valorização da educação em seu país, e da realidade que surge como consequência dessa prioridade, o chamado “estado de bem-estar social”, algo que desconhecemos por aqui. Estamos desacostumados igualmente a essa condição de valorização da educação. Está aí o Cristóvão, que há 20 anos espera por uma singela reforma, atestado eloquente de que a valorização da educação é só discurso.
Então, o estranhamento a Greta é retumbante e incorporado, com escassa ou quase nenhuma reflexão, ao nosso extremado Fla-Flu. Para irritação de muitos, ela incorpora o perfil clássico de uma “ativista”. Que provocação! Para Greta, sua iniciativa é natural a sua compreensão das coisas e a seu modo de vida. Ou ainda, como ela diz, por ter uma forma de autismo, “não me adapto às normas (ou determinações, pode-se dizer) sociais, não me interessa fazer o que os outros fazem, sigo o meu caminho”.
Essa é Greta, que ganhou rapidamente um exército de detratores. O que soa uma maluquice, visto que sua causa é meritória e acessível ao senso comum: Greta quer proteger o planeta. Quem não deveria querer? A Suécia é um país onde não se rasga dinheiro, mas tem sua situação financeira estabilizada e resolvida, inclusive com carga tributária maior do que no Brasil. Assim, dinheiro deixa de ser preocupação exclusiva ou prioritária, e o modelo educacional estimula, exercita e fortalece valores. É por causa desse modelo de educação e nesse ambiente cultural que surgiu Greta. Por aqui, a terra é muito pouco fértil para valores, e convivemos cotidianamente com aberrações, degradação e desrespeito. Não surpreende, e não surpreendem os detratores da menina sueca.
Greta introduz uma novidade em termos de postura diante da vida: ela não tem medo de fazer ao contrário do que em geral nos é dito. E a justificativa para seu “ativismo” é um tapa na cara: “Quando se acredita em algo, precisa fazê-lo.” Simples assim.