Ah, o inverno!... As previsões do tempo me garantiram, ali em junho, quando se inicia a estação, que, este ano, o inverno seria moderado. Temperaturas amenas e mais umidade. Torci um pouco o nariz, porque aprecio as estações do ano naquilo que elas têm em sua essência. A presença do inverno valoriza o verão, as folhas que caem valorizam as que florescem. Então, faz bem à alma, nem tanto ao corpo, sentir o inverno, uma estação de rigores, a vida não são só as flores, que castiga e deixa marcas nas pessoas mais expostas, a exigir o exercício da solidariedade. Assim é o inverno, e logo ali vem a primavera. Mas os dias frios têm sua importância, que o digam os produtores de uva.
Assim como tem rigores, o inverno tem também os seus atrativos. Para ficar naqueles mais acessíveis, podemos citar um fogão à lenha, o pinhão, uma boa sopa, incluindo as solidárias, um café bem quente. A região é vocacionada para o inverno, tem seus símbolos, suas marcas, aquelas passagens de inverno que dizem respeito a cada um. Inverno é, por exemplo, neblina, vidro embaçado, o vento na cara, os dias de sol. Inverno é outra beleza, com a licença de Herbert Vianna. Sem nunca esquecer as mazelas, pois é recomendável a abrangência dos enfoques para um cenário completo.
Poderíamos propor aquele exercício conceitual do tipo “inverno é...”, e a pessoa responde com a síntese que mais lhe diz respeito, o que mais associa ao inverno, decorrente de toda uma vivência de anos. Não sei vocês, mas, no meu caso, “inverno é...” comer bergamotas (e laranjas) ao sol. Os cítricos em geral. O velho é bom hábito de lagartear. Meu pai cultivava uns poucos pés de laranja e bergamota e, quando criança e adolescente, comíamos as frutas ao sol naquele tempo em que havia tempo, depois do almoço... Bons tempos. Foi então que aprendi a habilidade – menos simples do que parece – de descascar laranjas.
Até hoje, saboreio bergamotas ao sol, em rápida pausa no trabalho. Hábito de infância. Agora, com a troca de endereço do jornal, se alguém for visto a comer bergamota na esquina da Bento com a Borges no início das tardes de sol, provavelmente serei eu. Porém, há uma frustração no ar: ainda não sei o que aconteceu com as frutas deste ano. Estão “engraçadas”, menos apetitosas, mais secas. Estou atrás de esclarecimentos técnicos sobre o que houve. Ainda assim, não as dispenso. Afinal, para mim, “inverno é...” comer bergamotas (e laranjas) ao sol. É a vivência que mais me toca, associada aos dias mais frios.
E para você?