Terça-feira (14) assisti a mais um vídeo da prefeita Gisele Caumo, de Santa Tereza. Sempre se comunicando com extrema franqueza, sensibilidade e clareza, ela mostrava um arroio que simplesmente decidiu seu novo curso e construiu seu novo leito sobre uma estrada vicinal que desapareceu. Este é apenas um de tantos “depois”.
Numa situação de calamidade como a que o Rio Grande do Sul se encontra neste momento, informar a verdade e os fatos, e principalmente documentá-los, não é apenas questão de ética, é questão de sobrevivência e de segurança desta geração e das gerações futuras. São incontáveis olhos, câmeras, relatos de repórteres, de voluntários e de lideranças que estão lá, na linha de frente. A realidade dessa tragédia está sendo documentada em tempo real.
Por isso, é revoltante que uma ala política esteja mais preocupada em tentar tratar como “fake news” as críticas contundentes e pertinentes à morosidade e à ineficiência do Estado, que mal conseguiu servir o mínimo aos seus contribuintes numa hora de extrema necessidade. Pior: houve uma clara tentativa de colocar no mesmo balaio de gatos os aloprados histriônicos de sempre (uma gente de má reputação) e as pessoas comuns, os cidadãos que há duas semanas testemunham e relatam fatos tristes e incontestáveis.
Dizer que civis estão ajudando civis e ajudando também servidores do Estado, como os heroicos bombeiros e brigadianos, não é fake news. Exaltar o serviço dos voluntários não se trata de um convite à insurgência. Tentar colocar como coadjuvante o papel dos voluntários é ofender a garra e a solidariedade de um povo que jamais nega ajuda a quem quer que seja. Quando vejo algumas autoridades desperdiçando tempo e energia em reuniões e declarações num tom ameaçador, uma tentativa infrutífera de “desqueimar” seu filme, chega a ser desesperador.
O momento agora, mais do que nunca, é de abandonar essa polarização burra que há tempos beira a insanidade. Nossas lideranças políticas precisam urgentemente agir como várias lideranças comunitárias têm agido desde o começo diante dessa desgraceira toda: o momento pede união, pede diálogo, pede ideias, pede clareza na comunicação, pede raciocínio lógico, pede planejamento e, acima de tudo, pede serviço. Se até mesmo quem perdeu sua própria casa está trabalhando para ajudar outros ainda mais necessitados, qual a desculpa para não servir?
Estamos todos enfrentando um poderoso inimigo comum: a ira da natureza. Seja lá o que causou sua fúria — poluição, desmatamento, exploração imobiliária, densidade demográfica, excesso de lixo, características geológicas e geográficas, o Super El Niño, ou a soma de todas essas coisas — , estamos lidando com uma força muito maior do que poderíamos imaginar meses atrás. Várias decisões precisam ser tomadas, mas ninguém vai conseguir decidir bem se tomado por raiva, por medo, por tristeza e por desespero, muito menos por vaidade e despeito. É hora de coragem e de humildade diante de nossa condição humana, deixar a pequenez de lado porque o momento exige, acima de tudo, grandeza.