Há 30 dias o Rio Grande do Sul literalmente mergulhou num pesadelo, mas agora começam os sinais de reconstrução. E agora é a hora de ouvir os técnicos, ou seja, as pessoas que realmente sabem resolver problemas na prática em vez de ficar só na teoria. Não é o momento de cozinhar em fogo brando esse caldo confuso de políticos, militantes, blogueiros, influencers, interesseiros, apadrinhados incompetentes, trambiqueiros, teóricos de gabinete, falsos profetas da inovação, gurus aproveitadores, pseudocientistas e pseudointelectuais, como se disso realmente pudéssemos colher algum tipo de solução viável. A solução não está nesses grupos: a solução está no conhecimento técnico e na força de vontade do povo.
A situação é drástica, é a concretização definitiva de uma crise até pouco tempo improvável que acabou se tornando real. Ao longo dos anos, assisti a muitos documentários e reportagens que falavam de “refugiados climáticos”, algo que parecia muito distante — tanto geográfica quanto temporalmente. Parecia uma coisa que talvez só meus netos fossem presenciar. Que nada: foram inúmeros os relatos de conhecidos pegando a estrada numa noite escura, saindo em debandada de Porto Alegre e região para se refugiarem no Litoral Norte em busca de uma casa ou apartamento onde pudessem ter água nas torneiras e energia elétrica, além de supermercados abastecidos, coisas básicas da civilização. Muitos não voltarão à Região Metropolitana. Nesta semana, inclusive, vi o surreal anúncio em rede social de uma cidade de Santa Catarina fazendo um chamamento para que 100 migrantes gaúchos desabrigados e suas famílias se mudassem para lá onde há emprego e casa para todos eles.
A partir de hoje, a sociedade precisa confiar e investir em quem vai saber dizer com precisão até onde os rios podem subir de novo, quais encostas se tornaram inabitáveis, que cidades terão de ser realocadas definitivamente, quais estradas e pontes têm prioridade na reconstrução, que diques precisam de manutenção constante, por que as casas de bombas deixaram de funcionar, o que causou tantas falhas. Enfim, em termos de infraestrutura, há muito para planejar e executar por meio de parcerias público-privadas a fim de beneficiar a população mais atingida e garantir condições mínimas para que a economia gaúcha fique de pé novamente.
Acredito que boas ideias e iniciativas inovadoras não faltarão. Afinal, o estado do Rio Grande do Sul sedia dois dos maiores eventos de inovação do mundo — o South Summit Brazil em Porto Alegre e o Gramado Summit (que agora se internacionalizou e terá uma edição em Punta del Este, Uruguai, marcada para setembro). Eu realmente espero que entre todos aqueles heads de inovação, painelistas e frequentadores desses Summits e de outros eventos descolados da turma das startups brote algo concretamente útil nesse momento de extrema necessidade. É a hora das técnicas inovadoras serem colocadas à prova. Tomara que funcionem.