Em uma casa histórica centenária, com vista para o Vale das Antas em Bento Gonçalves, reside a família Possamai, envolvida com a cultura da uva desde 1878, quando o primeiro imigrante chegou ao Brasil. Hoje, quem cuida da Casa Possamai é a enóloga e professora de enogastronomia, Patricia Possamai, com seus pais Jurandi e Doraci. Depois de trabalhar com a comercialização de vinhos na Capital, resolveu transformar toda essa história em uma marca. A Casa Possamai nasceu quando Patricia retornou para Bento e passou a intensificar as experiências de vinificação. É que, ainda em 2001, ela produziu o seu primeiro vinho natural, um varietal de merlot. Mas a comercialização, de fato, só começou há cerca de dois anos.
A criatividade na elaboração e nos rótulos está fazendo o pequeno negócio familiar ampliar sua produção. Neste ano, serão 5 mil garrafas. Uma pequena produção se comparada aos volumes da maioria das vinícolas da região, mas que representa um avanço expressivo para uma prática artesanal, do cultivo da uva, à elaboração do vinho e até produção dos rótulos.
Quem cuida da viticultura é o pai, Jurandi. Quem processa a uva, cuida da fermentação e dos processos de elaboração do vinho é a filha. E a matriarca, Doraci Possamai, fica responsável pelos rótulos da linha Insieme. Ela pinta à mão paisagens e outras ilustrações. É uma imagem diferente para cada rótulo. Na última edição deste vinho merlot, foram 500 garrafas.
Depois, os rótulos são colocados manualmente. É a própria pintura que está ali, não trata-se de uma reprodução da arte.
_ É Insieme, porque eu faço junto com a minha mãe, que é artista plástica, e porque é um vinho feito a quatro mãos. A gente entrega uma obra de arte que, a partir desse ano, quem comprar vai ganhar junto o certificado NFT para poder vender essa obra virtualmente _ adianta Patricia.
Os demais rótulos, embora não sejam pinturas, também demonstram que a veia artística passa de geração para geração. Quem cria os nomes dos vinhos e a narrativa para as ilustrações é Patricia. O carro-chefe de vendas é o Laranja Voadora, ilustrado com uma rodela da fruta fazendo um voo de balão panorâmico. A intenção, segundo a idealizadora, é mostrar que esse vinho de cor laranja, que extraiu esta tonalidade pelo contato com as cascas de uvas brancas, é um vinho livre ou de baixa intervenção, como vem sendo chamado:
_ Por ser um vinho natural, é um vinho vivo. São três uvas diferentes, a sauvignon gris, riesling itálico e chenin blanc. Eu sempre digo que vinho não é uma questão da enologia. É de filosofia. Então não existe uma cartilha que me diga que o vinho precisa ser feito desta maneira. Eu vou elaborar o vinho da maneira que eu acredito e filosofia, para mim, está muito ligada à arte. Então tu tens que entregar muito mais do que uma bebida _ defende a autora.
Safra de novidades
Um dos lançamentos deste ano da Casa Possamai será um alvarinho que está sendo fermentado junto com pedras de basalto. Para aportar aromas e sabores terciários, é comum o chamado chip de madeira, utilizados em infusão para que possam ceder aos vinhos os taninos e polifenóis substituindo a passagem por barricas de carvalho, por exemplo. O uso de recipientes de concreto ou barro para fermentação e envelhecimento dos vinhos tem uma tradição milenar. A novidade que Patricia está implementando agora é o que esta colunista resolveu apelidar de “chip” de basalto.
_ É justamente para tirar desta pedra tão típica da nossa região a mineralidade no nariz e em boca _ explica a enóloga.
Outro lançamento que está nos tanques da Casa Possamai é um gamay, uva que Patricia considera propícia para vinho natural, já que ela é indicada para vinhos que devem ser consumidos assim que ficam prontos.
O Sangue de Júpiter, que é um sangiovese, também vai ficar pronto em 2023, juntamente com um barbera, e um vinho do tipo Supertoscano. O corte entre sangiovese e merlot, que na Itália passou a ser chamado assim por ser feito com uvas internacionais, ganhará um nome diferente na Casa Possamai. Patricia pretende chamá-lo de Supertosco.
Mas a inovação não está apenas no líquido. A partir desse ano, também vai sair uma nova linha que vai se chamar God Save the Wine and the Planet (Deus salve o vinho e o planeta), somente com garrafas de reuso.