Muito se falou no crescimento do consumo de vinhos finos nos últimos anos, destacando a evolução do produto nacional. Ao mesmo tempo que o setor comemorou estes bons números, uma outra preocupação também se intensificou na Serra. Cerca de 80% da uva plantada na região é para vinhos de mesa e sucos de uva, e os volumes comercializados destes produtos em 2022 estão muito abaixo dos índices de 2019, pré-pandemia, de acordo com a Associação Gaúcha de Vinicultores (Agavi).
Segundo Darci Dani, diretor-executivo da entidade, que acompanha os dados da Sistema de Declarações Vinícolas da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural, o que ainda apresentou uma leve melhora neste ano foi o suco de uva. De janeiro a abril, as vendas tiveram crescimento de 6% em relação ao ano passado, que já vinha acumulando quedas. Com isso, o volume de 46 milhões de litros comercializados nesse ano encolheu cerca de 10% em relação a 2019.
Dani conta que muitos produtores, para não deixarem estocar o suco, que é um produto para ser consumido fresco ou que exige muitos investimentos para conservação, acabaram produzindo vinhos de mesa. Só que o problema é que os números de consumo deste produto também não são animadores.
De janeiro a abril deste ano, foram vendidos 48 milhões de litros. A redução de consumo comparada a de 2019 é um pouco menor do que a do suco de uva, mas ainda assim chega a 7% de retração.
Entre os fatores que explicam a redução de consumo, no caso do suco de uva, está a compra menor por parte de escolas, principalmente na pandemia, com o ensino remoto. Os próprios sinais de retomada das vendas estão vinculados ao retorno presencial. No entanto, por ser um produto de maior valor agregado comparado a outras bebidas, com a inflação alta, há mais uma dificuldade para a recuperação de vendas.
Com relação ao vinho de mesa, o diretor da Agavi destaca que a própria migração para o consumo de vinhos finos pode ajudar a explicar a diminuição da fatia de mercado. A dificuldade em obter garrafas também limitou o mercado. Ele cita ainda a concorrência com os importados:
— Estão colocando vinhos finos a preço de vinho de mesa — compara Dani.
Como saída para evitar mais prejuízos ao setor, o representante da Agavi acredita que campanhas de incentivo ao consumo poderiam auxiliar, principalmente para o suco de uva, que não tem álcool e não tem as mesmas limitações que a promoção de vinhos. A expectativa é que o frio deste ano, que já apresenta baixas temperaturas no Outono, possa auxiliar na recuperação do setor.
De qualquer forma, a Serra vem tendo boas safras em termos de volume. E o especialista teme que, se o cenário de vendas não melhorar, pode faltar espaço de armazenamento nas vinícolas. Ainda mais depois de anos de queda de comercialização, o que implica em menos recursos para investir em novos tanques.