Foi o primeiro jogo do Brasil na Copa do Mundo de 1970, contra a Tchecoslováquia, que inspirou o nome do gerente executivo da unidade de negócio Marcopolo Rail, a mais nova divisão da companhia focada na produção de veículos sobre trilhos para o transporte coletivo. O Brasil saiu perdendo com o gol de Petras logo aos 11 minutos da primeira etapa.
— Depois o Brasil acabou ganhando de 4 a 1. Foi um momento emocionante que marcou meu pai, que jogava futebol, e ele acabou se inspirando para o meu nome — conta Petras Amaral Santos.
A persistência do Brasil naquele ano foi só um dos vários motivos que colocaram a seleção que disputou a Copa de 1970 como um dos maiores times da história do futebol ao conquistar o tricampeonato. Poderia se acrescentar talento, criatividade, ousadia e preparação entre tantos atributos que consagraram a formação desse time, e que poderiam inspirar a formação de equipes no mundo dos negócios.
Pouca gente sabe, no entanto, que o designer industrial Petras, que se destacou também montando times de inovação na Marcopolo, até joga futebol, mas tem o surfe como um dos esportes preferidos. É, no entanto, pela questão empresarial que dedica sua principal torcida. E, assim como na Copa de 70, defende muito que o tempo e a persistência formam uma importante dupla de ataque para conquistar a tão sonhada inovação.
Te imaginavas montando um time como o da Marcopolo Rail?
Para montar um time, em primeiro lugar, as pessoas têm que acreditar no propósito, nos objetivos, e têm que se engajar nessas ideias. De nada adianta montar um bom time sem ter esses fundamentos na estruturação no negócio. E eu acho que nisso estamos sendo muito bem sucedidos, mesmo em fases anteriores à entrada no mercado. A gente tem conseguido fazer com que as equipes sejam protagonistas desses negócios novos. Elas participam ativamente, inclusive, do nascimento desses negócios, e, posteriormente, desfrutam quando eles vão para o mercado, e ganham e têm vitórias em conjunto. Isso é muito importante!
E por falar em nascimento de negócios e de pessoas responsáveis por isso, conta um pouco mais sobre as tuas origens.
Nasci em São Borja. Meus bisavôs são imigrantes italianos da região de Trento. Eles chegaram pelo Uruguai e acabaram indo para regiões de fronteira. E aí eu dei uma volta para chegar em Caxias. Meus pais, Luiz Fernando e Bernadette, acabaram indo para Porto Alegre quando eu estava com dois anos de idade, onde meu pai começou a trabalhar na área de contabilidade da Pepsi. Ele tinha tentado a carreira de jogador de futebol anteriormente. Em Porto Alegre, fiz toda minha formação, me graduando em Design do Produto, com pós-graduação em inovação tecnológica por volta do ano 2000. Me juntei ao grupo Marcopolo em 2001, entrando na Engenharia de Desenvolvimento. Posteriormente fiz um MBA internacional em empreendedorismo e inovação na BI Internacional, quando ficou mais clara a visão de que uma empresa não só precisa evoluir em seu segmento atual, criando estratégias de defesa, mas também diversificar, criando novos produtos para novos mercados, inovar na experiência de uso e buscar seu próximo core business (negócio principal).
Antes da Marcopolo, o que fazia?
Eu tinha um estúdio de design em Porto Alegre. Fazíamos soluções para empresas em identidade de marca e design de produto. Como minha formação é em design industrial, eu me imaginava atuando em indústrias. E sempre me interessei pelo ramo automotivo. Cheguei a quase ir para a Volkswagen participando de um concurso de design em 2000, mas eu tinha mandado um currículo para a Marcopolo e ela estava se estruturando melhor nesta área e me chamou em 2001. Minha esposa Luciana, na época éramos noivos, me deu muita força para vir para Caxias do Sul, mesmo sabendo que ia sair de Porto Alegre. E nós acabamos migrando para cá. Temos dois filhos hoje, o Matteo, de nove anos, e o Andres, de seis.
Em quais setores já atuou na companhia?
Eu entrei na Engenharia de Desenvolvimento em 2001. Participei de todo o desenvolvimento da geração 7 de rodoviários e, posteriormente, o Viale BRT. Em 2011, eu assumi uma gerência de design. Acabamos criando o que é hoje o Marcopolo Design Center. A partir de 2012, com o meu MBA internacional, eu comecei a buscar uma diversificação, buscar novos produtos para novos mercados, e aí minha carreira começou a migrar um pouco do design para a inovação.
Qual foi o ponto de virada que fez tua carreira deslanchar ainda mais?
Para chegar na Rail, teve um ponto de virada que materializa a diversificação da Marcopolo no segmento de mobilidade que foi quando a gente fez o primeiro People Mover (modal de transporte sobre trilhos) para a empresa Aeromóvel. A gente foi procurado em 2015 e a gente teve que mudar de segmento e desenvolver um novo produto. A gente fez um que foi entregue em 2017 para Canoas. Aquilo mostrou o potencial da Marcopolo de ir além do ônibus, de atuar no segmento ferroviário, para fazer VLTs, para ir além do que a gente já dominava em mobilidade.
“Entre a semente e o fruto, existe o tempo”
E a Next, célula de inovação da Marcopolo, também pode ser considerada outro momento importante?
De 2014 a 2018, eu acumulei o design com inovação, mas, a partir de 2018, eu fiquei como head de inovação. Acabamos, então, estruturando a Marcopolo Next por volta de 2019, focada em inovações no setor de mobilidade, em sistemas, em soluções. A Next também mostrou que a gente poderia trazer soluções em serviços. Acabamos enfrentando a pandemia, e o segmento de mobilidade coletiva mudou completamente, indo até para uma imobilidade, as pessoas não saindo mais de casa. E buscamos soluções de biossegurança que nos desafiaram. Foi um momento muito difícil, mas fomos persistentes com esta questão de trazer novas soluções de mobilidade também com a Marcopolo Rail. Ela continuava ali desde 2017 sendo incubada.
Se fala muito em mudança de cultura das organizações para a inovação e há tempos vocês deram início a este processo. O desafio ainda é muito grande?
Temos vários desafios, porque toda mudança de cultura leva tempo. Entre a semente e o fruto, existe o tempo. Para tudo, tanto para mudanças culturais como para as mudanças em negócios... É um processo que a Marcopolo está passando, que é necessário, e não é fácil. Estamos falando de pessoas, propósitos, e elas têm que acreditar e participar das soluções. Não só ter a visão, tem que ter pessoas que possam trazer as soluções para essa Marcopolo do futuro.
Como é esse ambiente novo que já sentimos na Marcopolo quando entramos, por exemplo, na própria sede da Marcopolo Rail?
O grupo que temos aqui na Rail é muito engajado com essa Marcopolo do futuro. Eles têm um perfil que tem uma relação em buscar coisas diferentes. Tem pessoas que têm essa aptidão a assumir os desafios e os riscos. Temos buscado também mostrar que é um caminho interessante essa busca pela diversificação, mas que ele requer tempo e persistência.
Como atuar em um mercado, como o ferroviário, em que há anos se tem muita expectativa que deslanche mas até agora os grandes investimentos de infraestrutura andam muito devagar?
Sempre mantemos um otimismo, mesmo sabendo que não seria fácil. Somos um novo player no setor ferroviário, inclusive. Para isso, precisávamos criar também um posicionamento claro, que é o de viabilizar a implementação de novos sistemas de mobilidade sob trilhos. E trazer soluções que alcancem um valor total, entregue aos clientes, superior. Como indústria nacional, a gente tem uma visão clara das vantagens que teríamos para esses clientes e sistemas em relação a soluções hoje existentes. Também fica claro que temos uma velocidade de projetos bastante alta. O nível de customização da Marcopolo é alto também. E essa condição de trazer soluções novas, a nossa capacidade de criar essas diferenciações é muito alta. Olhando esse potencial, juntamente com potencial fabril de industrialização, nós temos uma visão muito positiva do que podemos fazer neste segmento, com um plano de negócios definindo claramente as verticais que vamos trabalhar. A Marcopolo Rail começou com o desenvolvimento em 2017, a marca foi lançada em 2019, e o primeiro produto no solo, o Prosper VLT, (surgiu) em dezembro de 2020. Isso mostra a velocidade. Em um ano, desenvolvemos e entregamos para o cliente um VLT completo para a Giordani Turismo. Agora fechamos o contrato com o consórcio do Aeroporto de Guarulhos e temos perspectivas de levar o Prosper VLT, como o de Bento Gonçalves, para várias cidades do Brasil e América Latina. São contratos que já estamos estudando para fechar neste ano para entregas a partir de 2023.
E tem algo pensando para trem de passageiros, metrô e para mobilidade de maior porte?
Uma das nossas visões é entrar nesse segmento de carros de passageiros tracionados por locomotiva onde há um potencial de crescimento tanto no Brasil como na América Latina para criação de fornecedores domésticos, que estejam dentro do próprio país para dar o suporte de pós-venda. No caso de produtos que não temos no portfólio, que é o próprio People Mover, trem de unidade elétrica e esses trens metropolitanos, os próprios VLTs de piso baixo, a gente tem uma vertical de negócio em que a gente fabrica a carroceria para os parceiros. Hoje no People Mover temos parceria com a Aerom e também estamos estudando parcerias no segmento de VLT e trem metropolitano com empresas estrangeiras instaladas no Brasil. No caso do carro de passageiros, a gente poderia ter produtos próprios na medida que o próprio Prosper seria a plataforma para criar o carro de passageiros tracionado. E também devemos estar estruturando toda uma área de contratos de manutenção, serviços e reforma que também é importante neste segmento, e temos totais condições de atender ao mercado. Já estamos com várias cotações e clientes em prospecção para esta estruturação.