O título de Jovem Empreendedor Industrial, nova categoria do Mérito Metalúrgico Gigia Bandera, é de Willian Guilherme Vieira. O gestor da Metais Wizeto, indústria e comércio com sede em Ana Rech, tem 34 anos, é engenheiro mecânico formado pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), com pós-graduação em Administração de Empresas, e atua há quase 20 anos na empresa familiar.
Viera desenvolveu uma metodologia própria no atendimento e gestão do negócio, que conta com 20 colaboradores e atende ao mercado do vestuário, com aviamentos injetados e estampados, como botões, placas, rebites e fivelas. Confira um pouco da história do jovem industrial.
Na apresentação dos agraciados, você destacou que tua história profissional se confunde com a da tua família e da empresa. Explique um pouco mais
Meu pai trabalhou em hotel em Vacaria como auxiliar de serviços gerais (Roberto Vieira, 66 anos, que hoje é conselheiro da empresa). Minha mãe (Elizete, 61 anos, atualmente responsável pelo financeiro da Wizeto) era de Fazenda Souza e o seu primeiro trabalho foi na Metalúrgica Abramo Eberle como auxiliar de produção, onde conheceu meu pai. Viemos de uma origem humilde. Eu vi meus pais fundando a empresa. A veia empreendedora da empresa é do meu pai. A veia administradora, da minha mãe. Sempre tentei ficar mais próximo do meio termo entre os dois. No início da nossa empresa, meu pai também trabalhava no terceiro turno da Robertshaw. Ele trabalhava de madrugada e eu de manhã. Como eu estudava à tarde, nessa época nos falávamos por bilhetes. Ele deixava orientações, como: “produzir tal fivela”. Por muito tempo meus pais conciliavam o trabalho na empresa e nos seus empregos com carteira assinada pela questão da renda, mas também pela questão da segurança. Sempre tivemos aqui na cidade uma cultura muito forte de trabalhar em grandes empresas em vez de largar tudo para um “sonho”. Lembro de uma vez que ele chegou a desmaiar de tanto trabalhar. E aí o pai foi demitido um mês antes da minha irmã nascer (Roberta, 23 anos, que também atua na empresa familiar). Foi então que apostamos tudo no nosso negócio. Eu fiz Engenharia Mecânica, conciliando com o trabalho, e com 18 anos já atuava em tempo integral. Logo em seguida, comecei a fazer feiras, visitar clientes de fora, e fui me direcionando muito para a área comercial.
Você disse que ajudou a guiar a empresa para outros caminhos.
A empresa foi registrada em 1996 e começou fabricando pinos e passadores. Ainda não fabricávamos fivelas. Os aviamentos que fazíamos eram componentes. Foi a partir da minha chegada na empresa que passamos a comprar injetoras, a fazer as fivelas. O setor calçadista mudou e fomos para a linha de botões. Depois isso também mudou e fomos para a estamparia. Temos inovação também dentro do nosso nicho. A fábrica, que inicialmente fazia só componentes, hoje entrega o produto pronto, uma solução completa. Ela entra para a coleção com o estilista para entender toda a parte conceitual, para entregar uma coleção completa, com fivelas, rebites e o que mais for necessário.
Como é atuar neste mercado que passou por muitas modificações, basta ver como os armarinhos, outrora negócios muito comuns, hoje são cada vez mais raros?
Quando começamos, também tinham poucas empresas no setor. A referência é a Mundial, a veia de aviamentos da Eberle. Meus pais aprenderam esse trabalho lá. Depois passou por outras empresas do ramo. Havia muitas empresas no Vale dos Sinos. Hoje já não mais. Aqui mesmo na cidade temos concorrentes maiores. O que nos diferencia é a capacidade de inovação em relação à moda, estarmos ligados com as tendências. E estar muito conectado ao cliente, nesse processo do dia a dia. Somos em 20 pessoas na empresa e cinco são colegas meus da época do colégio, que jogavam bola comigo. Nada é feito sozinho. Buscamos a valorização da mão de obra. Muito se ouve falar que o pessoal mais jovem não fica cinco anos na empresa. Muito é por conta dessa questão de não saber valorizar o profissional. E o pessoal também precisa saber valorizar o que a empresa tem a oferecer, e não apenas buscar algo sem nem saber para onde está indo.
Qual foi o sentimento quando soube que receberia tão jovem uma distinção da importância do Gigia Bandera?
Foi surpreendente! Quando me convidaram para participar, eu fui, mas sem esperar nada. É uma honra ser reconhecido dentro de um polo industrial como Caxias que é destaque nacional. E por estar representando o topo, o perfil daquele jovem que está “tocando” o negócio da empresa em busca de realizar um sonho, que é de toda a família, muitas vezes. É um privilégio!
Como você enxerga o futuro da cadeia de moda?
Com estas modificações de mercado, uma leitura fina que faço é de que teremos produtos mais sustentáveis. Sempre estamos atentos, para ver se não vamos ter nossos produtos sendo substituídos por outros mais inovadores. Por isso estamos sempre em conexão com pessoas e marcas que ditam a moda para saber como estão se comportando. Em nível macro, o que podemos pensar para o futuro é uma tendência de economia compartilhada também na moda. Por exemplo: você vai para um lugar muito frio e de repente não vai precisar comprar ou levar esse vestuário pesado. Até para economizar com a bagagem, mas muito pela questão de sustentabilidade. Nós mesmos produzimos dois milhões de peças por mês. Criamos dois modelos novos por dia. E também nos perguntamos: onde vão parar tantas roupas? Por isso precisamos pensar a sustentabilidade. Temos projetos de reaproveitamento, com foco ambiental e no processo fabril, mas também estamos estudando a reutilização dos produtos que fabricamos, pensando em novas soluções.