Graduado em Administração de Empresas com especializações em cooperativismo e gestão, Solon Stapassola Stahl, 50 anos, soma 35 de experiência em instituição financeira. Após trabalhar 13 anos em bancos, primeiro como estagiário no Banco do Brasil, depois como funcionário do extinto Meridional, ingressou na Sicredi Pioneira. Na cooperativa de crédito com sede em Nova Petrópolis e atuação em 21 cidades da região da Serra e Vale dos Sinos, é diretor executivo desde 2011.
Antes de assumir um dos postos principais da marca de forte atuação comunitária, desempenhou as funções de gerente de agência, foi assessor e superintendente da cooperativa. Na entrevista a seguir, Stahl destaca o papel da Sicredi no apoio, principalmente de pequenas empresas, para superar a crise provocada pela pandemia.
Neste mês, a Sicredi Pioneira distribui R$ 19,7 milhões de resultado na conta de associados. O que este número significa para a região?
Dentro do contexto atual, estamos indo bem. E esse é um resultado direto para o associado. No final de dezembro, apuramos o lucro, e a sobra foi de R$ 60 milhões. Uma parte fica retida para reinvestimento e em torno de 50% do lucro é devolvido. Agora foi feita a distribuição alinhada ao resultado que cada associado ajudou a gerar para a cooperativa. Por deliberação dos próprios associados, 80% dos valores foram direto na conta corrente. Os outros 20% foram somados ao capital social, aumentando a participação como sócio. Isso significa uma injeção de R$ 15 milhões nas contas de 165 mil associados. Na prática, são R$ 15 milhões injetados na economia, no dia a dia das pessoas. Paga cheque especial, fatura de cartão, para consumir, investir ou ser guardado. No meio de uma pandemia, é muito importante.
E na comparação com outros anos, como foi 2020?
Foi menor. Foram R$ 60 milhões contra R$ 75 milhões em 2019. Ao contrário dos bancos com balanços maiores, nosso modelo é diferente. Quando a pandemia estourou, o governo federal criou o Programa de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, o Pronampe. Quando percebeu que o dinheiro desse programa não estava chegando, nós não podíamos esperar mais. Ou salvávamos empresas ou elas iam sucumbir. Nós lançamos, com recursos próprios, o nosso Pronampe, com condições de taxas e prazos semelhantes. Foram R$ 120 milhões destinados para as linhas emergenciais, com uma taxa abaixo de custo. A gente abdicou de receita, porque nosso objetivo, como cooperativa, é gerar riqueza e não extrair riqueza das comunidades. Se não salvamos, não temos empresas, e a cooperativa vai mal se a região vai mal. Buscamos manter a economia rodando, o ecossistema saudável para se recuperar nos próximos anos. Isso explica um resultado menor. Emprestamos dinheiro com juros que hoje estão menores do que a taxa Selic. Além disso, em março do ano passado, antes de ser determinado como lei, a gente já começou a prorrogar prazos de pagamento. Seis meses depois, a pandemia não parou, e reprogramamos. Agora, de novo, têm parcelas vencendo e a pandemia não se foi. Com esse cenário ainda delicado, tivemos uma terceira etapa de parcelamento prorrogada. Os pequenos sofreram mais, como o comércio local. E a Pioneira ajudou a criar marketplaces locais. A gente financiou para gerar essa estrutura junto com entidades e deu crédito para empresas mais estruturadas colocarem seu site no ar.
A crise é muito segmentada. Pensando nisso, o que a Sicredi tem pensado de projetos mais específicos para a região de acordo com perfil econômico?
A gente acredita que a retomada real da economia vai levar de dois a três anos. Nós temos uma vantagem porque há uma diversidade muito grande de atividades por aqui. Temos desde o agronegócio à indústria pesada. O que faz a região não sofrer tanto. Percebemos ilhas que não refletem a queda macro. Tivemos aumento de consumo de produtos orgânicos, vinhos e artigos que as pessoas que ficaram em casa consumiram mais. A própria indústria metalmecânica não foi tão atingida. Agora o setor do turismo está sofrendo ainda. E temos ele muito forte na região. Apesar disso, começamos a perceber uma retomada, e o setor foi eleito como estratégico para a cooperativa atuar. Temos feito parcerias de consultorias com Sebrae, secretarias de Turismo, assim como fizemos agora com Caxias do Sul. E é um setor que está precisando de muito crédito. Por outro lado, acreditamos que assim que a taxa de vacinação se aproximar de 60%, 70%, vai ser uma indústria que vai crescer assustadoramente. E a demanda vai ser inicialmente local. O que é preciso é fôlego, e isso para uma empresa é capital de giro, e a cooperativa tem apoio para isso aportando recursos, dinheiro no caixa para se manter. Além de tudo, o turismo é uma indústria limpa que gera muito emprego e renda.
E os planos de expansão da Sicredi Pioneira?
Nós temos um planejamento de 10 agências nos próximos três anos. Vamos abrir uma unidade no bairro Santa Lúcia, na Rua Jacob Luchesi, em frente à Ceasa, no mesmo complexo do (supermercado) Andreazza. Devemos inaugurá-la em três meses. No nosso modelo, abrir agência física faz muito sentido, diferente dos bancos tradicionais que migram para o digital. A gente não descuida do digital, que é um caminho sem volta, tanto que nosso aplicativo foi escolhido um dos melhores do Brasil. Fomos pioneiros em transferências e pagamentos por WhatsApp. Estamos atentos a esse movimento de tecnologia como qualquer instituição financeira, mas achamos que temos que manter forte também o canal físico. Porque nosso relacionamento é baseado em proximidade. Em nossas agências, o espaço físico extrapola a função bancária. Temos o papel de ser um hub social, que traz a comunidade para decidir soluções nas nossas agências, temos até sessões para cinema da terceira idade, espaço para reuniões de associações de moradores, sindicatos... Nossa grade aposta é ser consultor do associado e ajudar a encontrar a melhor solução. Não temos mais metas de vendas de produtos e serviços. Nossos colaboradores estão focados na necessidade real do associado. Para isso, precisamos de espaço físico. Um robô ainda não tem a perspicácia de entender nas entrelinhas as dificuldades das pessoas. Essa migração digital deixa um vácuo no contato humano. Haverá espaço para gente cuidar de gente. A pandemia tem mostrado isso. Ela nos trouxe ferramentas para manter negócios, reuniões, alinhamentos à distância, mas duvido que não tenha alguém que está louco para ter um encontro físico. É um paradoxo!