Um texto que vem circulando nas redes sociais como se fosse uma carta aberta de empresários endereçada ao prefeito de Caxias do Sul, Adiló Didomenico, ameaçando desobedecer aos decretos municipais e estaduais, não chegou de fato ao gabinete dele. O mesmo manifesto, só mudando o endereçamento para prefeitos e governados de outras localidades, vem circulando pelas redes sociais. Como empresários de Caxias do Sul estão compartilhando o texto, a coluna buscou o posicionamento da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC Caxias) em relação ao tema.
A entidade enviou nota dizendo que repudia a disseminação de textos apócrifos, ainda mais em se tratando de temas de tamanha gravidade. A câmara ressalta que os empresários que levaram adiante a mensagem o fizeram por iniciativa própria. A CIC também fez questão de frisar que todo documento oficial emitido e tornado público é devidamente assinado pela CIC Caxias, atestando a sua autenticidade.
A prefeitura de Caxias do Sul disse que não recebeu, de forma oficial, nenhuma carta de empresários. Porém, áudios de empresários caxienses revoltados com as restrições impostas pela pandemia também circulam pelas redes sociais sem autoria. Um deles, chegou a afirmar que um empresário teria perguntado ao prefeito quantos milhões ele precisaria para resolver a questão sanitária. Este último caso fez a prefeitura emitir uma nota denunciando como falso o áudio compartilhado por WhatsApp e afirmando que o autor da mensagem será acionado judicialmente pelas acusações ao prefeito e dirigente de sindicato empresarial.
Presidentes de entidades compartilharam
A carta apócrifa chegou a ser compartilhada por mais de um presidente de entidade empresarial caxiense em redes sociais abertas. Embora suas entidades não tenham manifestado publicamente nenhuma posição semelhante em relação à pandemia, quando quem está no comando contribui para disseminar uma mensagem sem autoria e que conclama empresários a uma “rebelião” aos decretos, como pode esperar que seus associados sigam posicionamentos que vão em uma linha de respeito à lei e à ordem?
Confira nota da CIC na íntegra
Em relação a uma carta aberta apócrifa que circula pelas redes sociais em todo o país, inclusive em Caxias do Sul, a Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC Caxias) esclarece que a mensagem não tem nenhuma relação com a entidade. Esclarece também que todo documento oficial emitido e tornado público é devidamente assinado pela CIC Caxias, atestando a sua autenticidade, o que leva a entidade a repudiar a disseminação de textos apócrifos, ainda mais em se tratando de temas de tamanha gravidade.
Confira nota da prefeitura na íntegra
A prefeitura de Caxias do Sul adotará as medidas judiciais cabíveis, iniciando com o registro de Boletim de Ocorrência (BO) na Polícia Civil contra o autor de áudio compartilhado pela plataforma WhatsApp acusando o prefeito Adiló Didomenico de ter se negado a receber suposta ajuda feita por empresários para auxiliar na solução dos graves problemas de saúde pública decorrentes da pandemia do coronavírus. Em momento algum, o prefeito teve a conversa citada em áudio com o presidente do Sindigêneros, Eduardo Slomp, que igualmente não sofreu a alegada isquemia, menos ainda a hospitalização. Basta um contato com o empresário, um dos diretores da rede MultiMercados, para tomar conhecimento de que o áudio tem informações falsas, mentirosas, irresponsáveis e ofensivas aos gestores públicos.
É preciso registrar que existe, sim, um movimento do setor empresarial, tendo à frente o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul e o Sindicato das Indústrias de Material Plástico do Nordeste Gaúcho, de investir recursos próprios para tornar a UBS São Vicente em referência no tratamento de pacientes com sintomas leves. Desde o primeiro momento, a administração municipal se empenhou em trabalhar junto com os dirigentes das duas entidades empresariais para tornar a proposta uma realidade no prazo de tempo mais curto. Espera-se que isto ocorra já no decorrer da próxima semana.
Também é preciso lembrar que as próprias entidades empresariais reagiram, com indignação, ao áudio difundido durante a semana com informações inverídicas sobre ações do poder público. Jamais o prefeito Adiló Didomenico e os gestores pela área da saúde, que têm agido incansavelmente e com responsabilidade, abririam mão da colaboração de qualquer segmento da comunidade que se prontifique a auxiliar neste momento de dificuldades nunca antes enfrentadas não apenas na cidade, mas em muitos países.
Áudios como os veiculados nos últimos dias em grupos de WhatsApp, com informações inverídicas sobre ações da prefeitura , ou compartilhamento por lideranças locais de mensagens apócrifas como sendo uma visão geral do empresariado, não contribuem em nada para o combate à pandemia, que tem tirado a vida de milhões de pessoas mundo afora, sendo 554 em Caxias do Sul – dados de sábado (13.03). Estas condutas somente evidenciam um pensamento autoritário, antidemocrático e descompromissado com a realidade, que exige, de todo o cidadão/cidadã de bem, uma visão de conjunto, de colaboração e sacrifício para colocar fim a este momento crítico para a saúde das pessoas e das empresas.
A solução virá de um comportamento solidário, de participação, de diálogo e de uma cobrança isenta de conteúdo ideológico. O que mais se precisa, neste momento, é de sensibilidade e caráter comunitário para superar a crise de saúde e econômica. Prestar-se a inventar conversas que jamais existiram e fazer denúncias irresponsáveis só alimenta o caos, que não interessa à maioria. Esta quer e precisa de soluções. Os que ainda se associam ao obscurantismo e à falsidade, certamente, não terão espaço na sociedade do futuro, que prezará pela verdade, ciência e justiça.
A prefeitura não tem poupado esforços físicos e financeiros para colocar à disposição da comunidade o mais amplo suporte de saúde possível, investindo em leitos de UTI, equipamentos, acréscimo de pessoal e estruturas. Mas tem sido insuficiente diante do potencial devastador da doença. É preciso que todos entendam, definitivamente, que cada um deve fazer a sua parte, usando máscara, evitando aglomerações e lavando as mãos ou usando álcool em gel frequentemente. A prefeitura reconhece as dificuldades do setor empresarial e tem defendido, junto ao Governo do Estado, medidas que garantam o funcionamento mínimo dos setores produtivos. Mas a saúde de cada cidadão precisa ser priorizada neste momento. E não serão denúncias e acusações vazias que desviarão a administração Municipal de Caxias do Sul deste propósito.