Quando o empresário caxiense do ramo moveleiro, Pedro Eloi Steffens, 60 anos, fala da Associação das Empresas de Pequeno Porte da Região Nordeste do RS (Microempa), entidade que passou a presidir neste ano, gosta de destacar que não direciona sua fala para micro e pequenos negócios.
– É uma expressão que considero errada. Nossas ações são para os empresários. A empresa é pequena, o empresário, não – destaca.
Pensando em como ampliar a visão dos empreendedores mesmo em um momento de incertezas econômicas, ele compartilha a seguir um pouco da experiência como gestor da Móveis Steffens, professor do Senai de 1971 a 1991 e dos mais de 29 anos dedicados ao associativismo na Microempa, onde teve papel fundamental na criação dos núcleos setoriais. Confira:
Como o senhor se tornou empreendedor?
Sou de uma geração diferenciada, pois lá com 13 anos eu tinha que ajudar os pais. Fui vendedor de picolé, empalhei garrafão ao lado do meu pai. Foi em casa que começou o empreendedorismo. Meu pai viu a possibilidade de montar um negócio para eu e meus irmãos, porque trabalhávamos para o vizinho, mas tínhamos todo o pessoal e o conhecimento para fazermos por conta. Mesmo sem ele ter estudo, meu pai me matriculou como aluno do Senai, onde depois fui convidado para voltar como professor na área moveleira. Hoje tenho a honra de ter grandes empresários do ramo que foram meus alunos. Também fui coordenador de curso, o que me facilitou para ter a ideia de criar a própria empresa. Hoje meu filho assume os negócios, o que me permitiu ser presidente da Microempa.
Como encara o momento atual da economia?
Nós temos muitas coisas boas, mesmo em época de pandemia. Temos setores com avanço, mas sempre atuando com cautela. A indústria e o agronegócio são setores que avançam, mesmo com pandemia, na comparação com comércio e serviços. Aí vem a pergunta: por que em nível de governo federal, estadual e prefeituras, não se colabora um pouco mais com esses setores que mais precisam? Eles olham como um todo. Mas é setorial o maior problema.
Entre os ramos que vão bem está o moveleiro, em que atua. Há temor de que seja um efeito de “bolha”?
As pessoas perceberam que tem que investir no bem-estar. Depois de 20, 30 anos com os mesmos móveis, passaram mais tempo dentro de casa e acharam que estava na hora de mudar. Mudar é sempre bom, mudar para melhor. No início, tivemos a parada de duas semanas, e depois essa reação positiva. Mas, claro, nós temos dificuldades também. Não é só bastante serviço. Temos muito trabalho, mas estamos com medo de contratar. Vejo tantas pessoas precisando, até pelos grupos setoriais que acompanho, mas temem redução de demanda ali na frente. E precisam de funcionários qualificados. Fui professor do Senai. Tinham cursos na área moveleira na minha época em Caxias do Sul. Hoje não temos mais. Só tem em Bento Gonçalves. Ninguém quer tirar funcionário de outra empresa. A solução é contratar pessoas que não conhecem e treinar. Elas podem ir para outra empresa depois, mas é um risco que precisamos correr.
Como é atuar em um segmento que está crescendo na pandemia, enquanto lidera uma entidade em que a maioria está sofrendo os impactos?
Eu estou conversando com cada um dos colaboradores, com os núcleos setoriais, e descobrindo maravilhas. Temos um grupo do turismo, um dos setores mais atingidos, que tem um pacote pronto para Cambará do Sul. O grupo setorial moveleiro queria fazer uma excursão, mas não teve condições ainda, também porque não sabia como. E dentro da Microempa tínhamos a resposta. Eles não souberam se vender e nós não soubemos comprar. Por isso nossa bandeira é “associado compra de associado”. Vamos buscar vender o produto na reunião do outro grupo setorial. Nós vamos levar os produtos a todos os associados, mesmo os que não estão nos núcleos. Quantas compras são feitas em uma empresa? São 2.800 associados. E o potencial é enorme, porque o empresário pode precisar comprar, não só para a empresa, mas para a casa. Cada um dos associados pode ser cliente duas vezes. O maior problema e o maior desejo do empresário da pequena empresa é a venda do produto. Temos pessoas muito qualificadas na arte de fabricar. Caxias é muito poderosa em relação a isso. Porém nem todos os empresários tiveram o aprendizado para ser empreendedor. E nós podemos auxiliar. Não é só entender a parte técnica, e não entender do portão para fora. Se a gente conseguir ampliar o número de negócios entre associados, as pessoas passam a procurar a Microempa, em vez de nós procurarmos.
Qual a expectativa para os negócios em 2021 com o cenário atual de pandemia?
Temos acompanhado o cenário junto com a Federasul. Algumas organizações estiveram em frente ao Palácio Piratini na semana passada, e isso não condiz com a posição das entidades. A gente acredita que a cogestão seria uma possibilidade de dividir as tarefas. Cada prefeitura pensa e analisa de acordo com os problemas enfrentados em suas cidades. Assim temos condições de procurar o prefeito e colocar nossos anseios, que não pode ser só levar problema, mas também ajudar nas soluções. O foco para encarar esta crise tem que ser em negócios. Onde eu conseguir negócios em conjunto para grupos vai ser muito importante. Se a empresa tiver venda, a fabricação não é problema.