A Bateleur, consultoria de fusões e aquisições, com sede em Porto Alegre, mira suas apostas no mercado de Caxias do Sul. A empresa assessorou financeiramente importantes transações societárias envolvendo companhias da Serra Gaúcha nos últimos tempos.
Entre os contratos destacam-se a fusão entre a caxiense Rodoil e a paranaense Mazp, que criou a maior distribuidora regional de combustíveis do Sul do Brasil; a fusão entre duas gigantes no filão de tecnologia para móveis: a caxiense Promob e a canadense 2020 Spaces; a aquisição da construtora Fisa pelo Grupo Zarpp e, posteriormente, a fusão entre a Fisa e a Censi; a negociação da participação societária de 50% da holandesa Vitol no capital da Rodoil; e a compra da tradicional distribuidora de combustíveis Megapetro pela Rodoil.
Com a estruturação da sexta operação em 2018, a Bateleur intermediou valor patrimonial de R$ 2,3 bilhões.
– Cada negócio tem suas particularidades e, por sua vez, seus singulares bastidores, mas são tão sigilosos quanto tudo o que conduzimos. Cada membro da equipe da empresa que atua numa transação dessas assina um documento responsabilizando-se pela não divulgação de qualquer dado, qualquer informação e de nada que tenha ocorrido dentro das salas de negociação – confidencia o CEO da Bateleur, Fernando André Marchet, 47 anos, natural de Caxias. Ele já foi vice-presidente executivo do Grupo Sicredi e também CEO da gestora de investimentos Quantitas.
Marchet enxerga 2019 como promissor, pois já existem movimentos de empresas do Sul e multinacionais focadas em aquisições no Brasil. Esses clientes pertencem a setores diversos, desde bancos de capital aberto até cooperativas de produção, passando por distribuidoras de combustíveis e empresas de alimentos, antecipa.
A seguir, entrevista ao Pioneiro concedida por Fernando André Marchet:
Como você avalia o mercado de fusões e aquisições?
O mercado de fusões e aquisições é uma decorrência do ambiente econômico. Ele se torna aquecido quando a economia mostra oportunidades e as empresas estão crescendo. Já quando estamos em período de desaquecimento ou em que a economia não está bem, essas transações dificilmente ocorrem, isso porque o empresário terá uma expectativa de valor que ele não conseguirá atingir. Existem exceções, como o caso de empresas que são muito resilientes, em termos de resultados, em períodos de crise, mas tipicamente o mercado fica mais aquecido quando se tem perspectivas econômicas melhores. Com isso, em um ambiente onde esperamos avanços importantes em termos de reformas, ajuste do Estado, privatizações e concessões privadas, e consequente melhora das perspectivas econômicas, o mercado de transações entre companhias tende a estar movimentado.
Quais são as perspectivas para os próximos anos?
Hoje, a expectativa é de que o governo consiga executar uma agenda de reformas e implementar um plano de privatizações e concessões, bem como de ajuste fiscal. Ainda temos muita indefinição de como será o cenário político que o novo governo vai enfrentar, mas a tendência é de que, em se avançando nessa agenda de ajustes, ocorra uma melhora no ambiente macroeconômico, com influência positiva em quase todos os setores, potencializando o mercado de fusões e aquisições.
Que perfil de empresa busca esse tipo de parceria?
Como há uma perspectiva de médio e longo prazos de crescimento da economia brasileira, vemos oportunidades em todos os setores. Existem alguns setores que respondem mais rápido ao crescimento da economia, e se tornam potencialmente interessantes, e outros que vêm atraindo interesse globalmente, como tecnologia, alimentos, saúde, educação e agronegócio.
Estão trabalhando algum negócio que envolva a Serra?
Estamos, e não só na Serra, como em várias regiões do Estado. Infelizmente não podemos citá-los porque, pela própria particularidade dos negócios, eles envolvem estrito sigilo.
Já houve cases na Serra de fundos de investimentos que adquiriam empresas, hoje em dificuldades financeiras. Um desses grupos é a Guerra. Qual sua opinião sobre isso?Especificamente esse é um caso de uma companhia que recebeu aporte de fundo de private equity (ativo privado) internacional e que não teve sucesso, mas a gente pode salientar casos de boas empresas que receberam aporte de pessoas físicas e que não tiveram sucesso ou empresas que receberam aporte de outras empresas do setor, o que chamamos de investidor estratégico, e também não tiveram sucesso. Sendo assim, o que aconteceu com a Guerra não foi decorrente de ter recebido investimento de um fundo, e sim está ligado a questões intrínsecas da condução da própria companhia, que é o que leva as empresas ao insucesso. Obviamente, diferentes tipos de sócios podem trazer diferentes influências na gestão das companhias investidas, e isso se refletir na condução das mesmas.
Mas como se precaver?
O fundo de private equity é um investidor financeiro e tem que ser entendido como tal. Com raras exceções, no mundo todo esses fundos têm janelas de investimento mais curtas, buscando retornos mais elevados e não são necessariamente destinados para cuidar da estratégia de longo prazo da companhia. Todo investidor quando entra numa empresa ingressa com foco em ter o retorno sobre aquele investimento. O que difere é o tempo em que ele busca esse retorno e o quanto esse sócio pode contribuir na estratégia e na operação da companhia. O sucesso ao receber um sócio, seja ele numa fusão, seja ele um investidor minoritário ou majoritário, é entender bem o objetivo e a estratégia do investidor, e avaliar se estão alinhados com a meta, a cultura, os valores e a estratégia da companhia.
Quanto tempo leva uma operação para ser efetivada?
Varia muito. É improvável que ela demore menos do que oito meses, e pode demorar muito mais do que isso. Tudo depende de quão madura a empresa for e de já estar preparada para uma transação. Em geral, empresas que já são assessoradas se preparam ao longo do tempo para o momento adequado de se envolverem numa operação societária, seja para comprar alguém, seja para receber um sócio ou vender a companhia, e isso tornará a transação mais rápida de ser executada. Se a empresa ainda não está preparada, tende a tomar um bom tempo, comumente uns dois anos.
Há tendência de que empresas menores sejam assediadas ou engolidas? Como está esse mercado?
O porte da empresa não é um fator determinante. Se o negócio não for bom, ela provavelmente sairá do mercado independente do seu tamanho. Não é uma questão de tamanho, é uma questão de estar no negócio que permite crescimento e potencial de expansão. O que irá determinar se ela fará parte do lado que vai crescer ou do lado que vai sucumbir é o quão ágil ela responde às mudanças e o quão preparada ela está para elas.
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