Após três anos considerados difíceis, o setor moveleiro gaúcho esboça reação, sabendo que a crise financeira exigiu que as empresas fizessem a "lição de casa", com mais investimentos em tecnologia, negociação com fornecedores de matérias-primas e busca de novos mercados.
No caso do polo de fabricantes de móveis de Bento Gonçalves, mais um indício do momento de retomada de expectativas dos negócios será a 14ª edição da Feira Internacional de Máquinas, Matérias-Primas e Acessórios para a Indústria Moveleira (Fimma Brasil) 2019, a ser realizada de 26 a 29 de março, reunindo 360 expositores e 25 mil visitantes.
Promovida pela Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs), a feira apresentará novidades em 58 mil m² de área coberta e climatizada no Parque de Eventos de Bento Gonçalves, integrando os principais players do mercado, com oportunidade de efetuar prospecções e negócios estimados em US$ 290 milhões. Estarão representados mais de 30 países.
Para abordar o novo cenário a ser descortinado pela cadeia de móveis, a equipe do + Serra reuniu-se com executivos do segmento em Bento Gonçalves, incluindo Rogério Francio, presidente interino da Movergs (ele assumiu com a solicitação de saída de Volnei Benini) e gestor da Móveis Carraro, e Henrique Tecchio, presidente da Fimma Brasil 2019.
A seguir, trechos do bate-papo com Francio, alguns dos tópicos complementados por Tecchio e outros empresários:
Crise econômica x setor moveleiro
Todos os setores moveleiros foram afetados, com margens de lucro estranguladas e uma ociosidade média de 35% nas linhas de produção ao longo dos últimos anos. O dólar alto favoreceu as exportações, mas o empresário sofre com o fornecimento de matéria-prima. Como o mercado externo está sendo atrativo, as empresas brasileiras são penalizadas com o aumento de preços dos painéis de MDF e MDP, insumos que concentram-se nas mãos de poucos grupos no país.
Retomada em 2019
O ano não começou bem. Janeiro ainda foi acanhado. Ainda estamos muito atrelados ao caminho de definições no âmbito político e econômico. Mas 2019 tem tudo para ser melhor. Estamos entusiasmados. Mas uma coisa é a vontade. Outra é a realidade, a expectativa.
Exportações
Entre os Estados exportadores de móveis, o Rio Grande do Sul ocupa o segundo lugar, com 14%, atrás de Santa Catarina, com 31,7%. Dos países de destino das exportações de móveis do Rio Grande do Sul, em dezembro o Peru ficou em primeiro lugar, com 19,7% dos valores, seguido pelo Reino Unido, com 15,1%, e pelo Uruguai, com 14,7%. Também ganham mercado Estados Unidos, Chile e Colômbia. No período de janeiro a dezembro de 2018, as exportações gaúchas de móveis alcançaram US$ 200,2 milhões. Vendas externas exigem planejamento e qualificação para as empresas não ficarem tão dependentes do mercado interno. Porém, ainda poucas companhias investem nesse caminho, até porque é necessário estar atento a legislações específicas dos mercados externos.
Importações
Já os países que lideram a origem de móveis do Rio Grande do Sul são: Coreia do Sul, com 43,1% de participação, seguido por China (36,4%) e Taiwan (4%). Em dezembro de 2018, foram importados US$ 2,9 milhões em móveis no Estado.
Logística
Perdemos muitos negócios hoje para polos moveleiros de Minas Gerais, São Paulo e Pará, em função de problemas de logística e localização geográfica. Trazemos matéria-prima do centro do país para beneficiar e depois mandamos os produtos de volta prontos para o principal mercado consumidor. Com isso, somos 20% menos competitivos. O custo logístico soma 10% a mais, os demais são com impostos e mão de obra. Muitas empresas já estão investindo em frotas próprias para compensar.
Consumo
Em novembro (últimos dados), o consumo de móveis no Rio Grande do Sul foi de 8,4 milhões de peças, crescimento de 6,7% em relação a outubro, sendo que no acumulado do ano até novembro houve alta de 7,6%.
Investimentos
As importações de máquinas para fabricação de móveis registraram impulso de 35,7% em 2018, um termômetro de que as empresas estão retomando os investimentos em renovação dos parques fabris e tecnologia para a produção de móveis.
Fimma Brasil 2019
Esta será a feira da diferenciação, da integração de todos os elos da cadeia, com novos projetos e inovação. Temos 25% de renovação de marcas, o que evidencia a oxigenação. Entre as novidades, uma delas inédita, será o encontro entre expositores e 200 grandes empresários e potenciais compradores de todo o Brasil, que serão trazidos pela própria organização. Durante os quatro dias do evento, esses gestores circularão, promovendo intercâmbio, fortalecendo parcerias e realizando negócios. Também agregará valor à feira o projeto Fábrica em Ação, iniciativa recém-criada pela Associação dos Fornecedores para as Indústrias de Madeira e Móveis (Affemaq). Trata-se de uma fábrica de móveis em pleno funcionamento. Os visitantes poderão transitar entre os processos e acompanhar a produção de móveis em tempo real. Já a Fimma Marceneiro busca incentivar o desenvolvimento das micro e pequenas empresas do segmento, facilitando o acesso às informações.
Projeto Comprador
Este projeto completa 10 edições e permite aproximar empresários brasileiros e compradores estrangeiros em rodadas de negócios, além de visitas técnicas. A intenção é de reunir cerca de 50 importadores para o evento.
Turismo de negócios
A feira ajuda a impulsionar o turismo de negócios e de lazer também, já que os empresários aproveitam para conhecer pontos turísticos, com lotação máxima dos hotéis de Bento. A alta demanda faz com que o preço das diárias durante o período da feira suba, um ponto criticado.
Competição
A Fimma é uma feira do setor para o setor. A meta é qualificar o segmento, apresentar o que há de mais moderno em maquinário no mundo, sem sair do país. Alguém poderia dizer: mas é estratégico capacitar o concorrente? Achamos que sim. É melhor competir de igual para igual. O setor cresce junto.
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