Flavio Bruno, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e pesquisador do Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (CETIQT) do Senai, será o palestrante-âncora da 20º edição do Integramoda, nesta quarta-feira, em Caxias.
Ele abordará o tema A Quarta Revolução Industrial no Setor Têxtil, discutindo como a tecnologia implica na cadeia produtiva e no consumo. À coluna, ele antecipou um pouco do que discutirá na Serra:
Caixa-Forte: O que significa “a quarta revolução industrial no setor têxtil”?Flavio Bruno: Significa que um processo de descentralização das decisões sobre a produção de bens e serviços está em curso. Nesse processo, o consumidor assume papel central no comando da manufatura, estando integrado à produção desde a fase de criação. Na Quarta Revolução Industrial, as informações relacionadas à criação de valor são disponibilizadas na Nuvem, permitindo que ajustes de suprimento e de demanda ao longo dos processos sejam feitos em tempo real.
Como a tecnologia implica na cadeia produtiva e no consumo? Por meio de chips RFID inseridos ou acoplados em insumos, produtos e equipamentos, o sistema de produção adquire autonomia para se ajustar continuamente à demanda. Por meio da internet, os fornecedores de insumos e de serviços recebem informações em tempo real, permitindo que toda a rede de valor se ajuste continuamente e da maneira mais eficiente às demandas de um consumo cada vez mais individualizado e personalizado.
Quais os grandes desafios hoje da indústria da moda? Atender diretamente ao cliente, oferecendo suporte em plataformas colaborativas de design ao consumidor que está em sua casa ou em qualquer outro lugar, por meio da internet, dos aplicativos e dos dispositivos móveis como smartphones, tablets e smartwatches. Essa nova função do design é fundamental para que o consumidor possa ser integrado às manufaturas na fase de criação do produto. Por outro lado, tal integração permitirá a pequenas empresas obterem maiores margens de lucro, eliminando intermediários e vendendo diretamente para seus clientes.
E os principais entraves?A automação industrial física no setor ainda é um desafio, pois os fabricantes de máquinas não estão habituados a produzir soluções integradas e a abrir segredos industriais de fabricação e de protocolos de informação. O compartilhamento de dados entre parceiros de uma mesma rede produtiva também é uma mudança cultural necessária para que a indústria assuma as características da Indústria 4.0.
A China continua uma ameaça? A China tem um grande mercado interno para suprir e, nos últimos anos, houve aumento de salários e criação de leis e regulamentações socioambientais que encareceram sua produção. Além disso, as tendências de consumo atuais, que se intensificarão no futuro próximo, são de aproximar cada vez mais a produção dos consumidores, e a Ásia está muito distante do cliente brasileiro. A Quarta Revolução acontecerá para todos, e certamente oxigenará nossa indústria, justamente pela necessidade de fabricação local e de tempos de entrega cada vez mais curtos.