A notícia de que a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) habilitou o projeto de construção de um porto em Arroio do Sal, o Porto Meridional, é uma ótima notícia para a Serra Gaúcha. Por mais que os planos envolvam diretamente o Litoral Norte, projeta-se um amplo impacto para a metade norte do RS, com reflexos muito positivos para a nossa região.
Ainda estamos na fase de vencimento de etapas prévias, e é provável que se leve algum tempo para que as obras comecem. De qualquer forma, é visível uma rápida superação dos aspectos burocráticos que marcam um projeto desta magnitude, e é importante que estas tarefas iniciais sejam bem executadas, garantindo boa fundamentação técnica e econômica. O que era uma vaga ideia há cinco anos, hoje é um projeto com razoável evolução, apoio político e investidores interessados, com grandes possibilidades de sair do papel.
Não é preciso ser especialista em logística para entender o quanto a redução de gastos em transporte pode ser importante para as empresas da Serra Gaúcha. Basta olhar o mapa. Uma carga que hoje tem que fazer 430 quilômetros para ir de Caxias do Sul até o Porto de Rio Grande, passaria a percorrer 190 quilômetros. É menos de metade da distância, com óbvios impactos de economia com tempo, combustível e menor desgaste de profissionais, além de facilitar também a chegada de matérias-primas e equipamentos. Tudo isso significa aumento de competitividade.
O potencial das regiões que seriam beneficiadas e a escassez de empreendimentos do gênero no Estado é um chamariz para a ideia. O sinal mais óbvio é o que ocorre em Santa Catarina, onde há seis terminais portuários marítimos e mais três em estudo e implantação, enquanto no RS tudo se concentra no Porto de Rio Grande. Isso não tem lógica. Rubem Bisi, membro da Câmara de Infraestrutura do MobiCaxias, e coordenador do projeto do porto na entidade, revela que as vantagens vão muito além da distância.
— Além do custo menor do frete terrestre, há outros três fatores de economia. O novo porto, mais moderno, deve ter um custo operacional ao menos 30% menor para quem o utilizar. O tempo de uso deve ser consideravelmente menor, e também é um fator de economia. Além disso, por ter a possibilidade de receber navios maiores, este porto deve propiciar fretes navais mais baratos, fechando um grande pacote de vantagens – aponta Bisi.
O fato de não depender de dinheiro público para sair do papel também é um ponto a favor. Como trata-se de um empreendimento privado, o aporte e captação dos cerca de R$ 6 bilhões serão responsabilidade do proponente, que tem dado sinais de que há investidores interessados, o que pode agilizar a construção a partir do vencimento das etapas burocráticas que ainda faltam.
Apesar do otimismo, a Serra precisa ficar atenta. Primeiro, por questões políticas, já que é notório que grupos ligados ao Porto de Rio Grande não estão nada satisfeitos com a ideia, e as pressões devem crescer conforme o projeto avançar. O outro ponto é que, para aproveitar ao máximo as vantagens que o Porto Meridional pode trazer, devem ser acelerados os estudos sobre melhorias na ligação com o Litoral Norte. A Rota do Sol, com seu histórico de buracos e capacidade já esgotada em alguns momentos, precisa ser repensada. Os benefícios futuros só existirão se a região se preparar, desde já, para tirar o máximo proveito dessa oportunidade que o futuro pode trazer.