Você já pensou em desistir de algo, alguma vez? Respire, saiba que todos nós, em algum momento, pensamos em desistir, em abrir mão. Fomos criados numa sociedade que tem uma cultura que encara a ideia de desistir como algo sempre muito ruim. Porque desistir passa uma ideia, errônea, de fracasso, de falta de coragem, de incapacidade.
É como se precisássemos, o tempo todo, provar que somos capazes, fortes, resilientes e jamais voltar atrás. Parece vergonhoso quando desistimos, como se tivéssemos de levar a cabo tudo e qualquer relação, mesmo que o preço disso seja anos de nossa vida, seja nossa saúde, nossos sonhos e o desejo de ser e viver de outro modo.
Ok, desistir é, de certo modo, sim, abrir mão de um projeto, abandoná-lo pelo caminho, deixar pela metade. Não sentimos orgulho disso, até porque tem a ver com dar-se conta de que, talvez, não sejamos quem achamos que somos e mais, temos de nos dar conta de que ficamos aquém da pessoa que preferíamos ser. Desistir de algo é compreender que temos um limite e precisamos respeita-lo.
Desistir está longe de ser sinônimo de fracasso. É interessante porque esta é a primeira ideia que nos ocorre, mas desistir de algo só acontece porque temos um outro horizonte a nossa frente, que nos leva para outros desejos, lugares e expectativas. Desistir é mudar de ideia, é descobrir que assim, deste modo, com esta intensidade, não dá mais. Algo daquilo que havíamos planejado saiu diferente e no contexto em que nos encontramos, podemos adoecer se não desistirmos.
Seja de um amor, de uma relação, do trabalho, de outras pessoas e até de nossas mágoas e lembranças. Chega um tempo em que precisamos desistir de vasculhar o passado, afinal, nada do que possamos tentar reviver para entender, vai de fato, alterar a nossa história. É claro que na prática isso é muito mais complexo e pode levar uma vida inteira para se chegar neste ponto.
Desistir é tão importante quanto não desistir. Somos formados pelo nosso percurso e pelas escolhas que fazemos ao longo dele. Às vezes nem nos damos conta de como somos tiramos conosco mesmos ao nos impor ficar em lugares, relações que apenas nos machucam. Não precisamos solucionar aquilo que está além da nossa capacidade de fazer o possível.
Às vezes o melhor caminho é desistir. Terminar a conversa, fechar as malas, encerrar o contrato, assinar os documentos, mudar-se. Falar, dizer para o outro, seja ele pessoa ou situação, um adeus e de fato desistir, principalmente para continuar a viver, a sorrir, a construir novos sonhos. É claro que isso é doloroso.
Quantas e quantas vezes ficamos porque achamos que o outro pode mudar, que as coisas podem ser diferentes. Enquanto isso, o tempo passa, nos machucamos ainda mais e nada muda, apenas nós podemos mudar, na medida em que descobrimos que só podemos ser responsáveis por nós mesmos.
Se encaramos a desistência como uma catástrofe a ser evitada, corremos o sério risco de fracassar na vida. Não o contrário.